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Escrita espontânea

Autor: Sara Mourão Monteiro,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

Considerando que nosso sistema de escrita é alfabético, a escrita espontânea pode ser compreendida como toda a produção gráfica da criança que se encontra em processo de compreensão do princípio alfabético, mesmo quando ainda não domina este princípio. O espontâneo designa essa possibilidade de escrever mais livremente, sem restrições e preocupações em errar, seja na escola ou em situações cotidianas. Nas pesquisas que tomam o desenvolvimento da aquisição da língua escrita pela criança como objeto de investigação, ela é considerada uma importante atividade, por desencadear e revelar processos de reflexão do aprendiz – uma vez que, para escrever, é necessário que pense nas características gráficas e produza indagações sobre como grafemas (letras) representam os fonemas (sons) da palavra a ser escrita. 

Na prática de alfabetização, a escrita espontânea se torna uma importante estratégia pedagógica. A escrita de palavras e/ou de frases, orientada pelos diferentes níveis de conceitualização da escrita e pelos conhecimentos prévios das crianças a respeito desse sistema (conhecimento das letras, por exemplo), faz com que elas formulem e reformulem suas hipóteses sobre o funcionamento do sistema de escrita. Isso se torna mais evidente quando as crianças têm a oportunidade de analisar suas escritas por meio do confronto com as escritas dos colegas e/ou com a forma ortográfica da palavra. Nesse sentido, os professores, preparados para orientar a reflexão das crianças sobre suas produções escritas, fazem com que elas observem, comparem, identifiquem aspectos sonoros e gráficos das palavras e revisem suas produções escritas. Todos esses processos podem ser realizados tanto por meio de intervenções individuais quanto por interações em pequenos grupos.

A escrita espontânea também é usada, na prática pedagógica, como estratégia de acompanhamento e avaliação do processo de aprendizagem das crianças, por professores e equipe pedagógica das escolas. Analisando as produções espontâneas dos alunos, esses profissionais podem se aproximar das primeiras intuições infantis sobre a representação da escrita, das constantes hipóteses formuladas por elas ao longo do processo e de seus avanços conceituais em relação à representação da escrita. Dessa forma, a escrita espontânea, além de fundamentar o repertório de estratégias pedagógicas, contribui, de forma significativa e geral, na definição da prática docente de alfabetização.


Verbetes associados: Alfabetização, Apropriação do sistema de escrita alfabética, Avaliação Diagnóstica, Conhecimentos prévios sobre a escrita, Correspondência grafofonêmica, Psicogênese da aquisição da escrita


Referências bibliográficas:
FERREIRO, E. O ingresso na escrita e nas culturas do escrito: seleção de textos de pesquisa. Cortez, 2013.
FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
TEBEROSKY, A. Psicopedagogia e linguagem escrita. Campinas: UNICAMP, 1990.

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