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Coesão textual

Autor: Irandé Antunes,

Instituição: Universidade Federal de Pernambuco-UFPE / Centro de Artes e Comunicação / Departamento de Letras,

Um conjunto aleatório de palavras e mesmo de frases não constitui um texto. Ou seja, para que algum material linguístico possa ser reconhecido como texto e possa funcionar comunicativamente, são necessários certos critérios de organização desse material. Entre esses critérios, as teorias do texto têm destacado a coesão, que consiste no encadeamento, na articulação, na sequenciação dos diferentes segmentos do texto, sejam eles palavras, orações, períodos, parágrafos ou blocos de parágrafos.

Por meio de diferentes recursos do léxico e da gramática, nexos, laços, elos vão sendo criados entre todos esses segmentos, de modo a promover – e permitir que seja reconhecida pelo ouvinte/leitor – a necessária continuidade do texto, que, por sua vez, promove a sua unidade semântica e a sua unidade pragmática. Um texto se faz, assim, como resultado de uma cadeia de nexos, em direção à construção de um determinado núcleo: o tema global, o objetivo principal, a função comunicativa predominante, por exemplo.

Essa cadeia de nexos, ao longo do texto, se estabelece: a) pelos recursos da reiteração (repetições, paráfrases, retomadas pronominais, retomadas por palavras sinônimas ou por hiperônimos); b) pela associação de sentido entre as palavras do texto (palavras semanticamente afins); c) pelo uso dos diferentes tipos de conectores (preposições, conjunções, advérbios e respectivas locuções). Assim, tudo no texto está interligado, uma unidade dando acesso a outra, ligando-se a outra, anterior ou subsequente; nada está solto; nenhuma palavra está ali aleatoriamente ou por algum motivo que não seja a expressão dos sentidos e das intenções pretendidos. Dessa forma, a continuidade pretendida pela coesão textual não se justifica por si mesma; é, ao contrário, uma exigência da unidade global do texto, ou seja, uma das condições de sua coerência. Daí por que a coesão e a coerência – critérios fundamentais de qualquer texto – constituem propriedades textuais intimamente interligadas.

Ao ouvinte/leitor, no processo de compreensão do texto, cabe interpretar as sinalizações disponibilizadas no texto, para reconstruir a cadeia de nexos intencionada pelo produtor.

Por isso mesmo, a coesão e a coerência devem merecer atenção especial na prática pedagógica de ensino da língua que vise ampliar competências em leitura, escrita e oralidade. As atividades escolares de “formar frases”, bem comuns, ainda, em algumas escolas, constituem, na verdade, uma negação dessas exigências da coesão e da coerência textuais – propriedades tão inerentemente constitutivas de qualquer atividade de interação verbal. As capacidades que a escola pretende desenvolver para o integral exercício da interação falada e escrita dos alunos requerem que o texto esteja no centro das propostas de ensino da língua e que o objetivo maior da escola se defina em torno da reflexão, da análise e da investigação de como os textos se constroem para que possam funcionar como expressões de um dizer coeso e coerente.


Verbetes associados: Coerência textual, Ensino de Língua Portuguesa, Recursos coesivos , Texto,


Referências bibliográficas:
ANTUNES, I. Lutar com palavras – coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
KOCH, I. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989.
KOCH, I.; TRAVAGLIA, L. C. Texto e coerência, São Paulo: Contexto, 1991.
MARCUSCHI, L. A. Linguística de texto – como é, como se faz. Recife, Editora da UFPE, 1983.

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