< ir para página inicial

Ilustração em livros de literatura infantil

Autor: Luís Camargo,

Instituição: Escritor e Ilustrador,

Ilustração é uma imagem que acompanha um texto. A imagem pode: 1) imitar a aparência visual de um objeto – por exemplo, uma pintura representando uma cadeira; 2) apresentar uma relação de causa e efeito com o objeto que representa – por exemplo, as marcas, em um tapete, das pernas de uma cadeira, que indica que ali havia uma cadeira; 3) ter significados convencionais, isto é, estabelecidos culturalmente, por convenção – por exemplo, a cadeira utilizada por bispos em audiências oficiais, que simboliza autoridade eclesiástica. Por isso, a imagem tem algo de ícone (1), de índice (2) e de símbolo (3).

“Se você não sabe o que é um grifo, veja a ilustração”, diz, a certa altura, o narrador de Alice no País das Maravilhas. Esse enunciado sugere que a ilustração pode explicar ou esclarecer um texto. Para que mais serve uma ilustração? Como toda imagem, a ilustração pode representar, descrever, narrar, simbolizar, expressar, chamar atenção para sua configuração visual ou seu suporte, para a linguagem visual, incentivar o jogo, procurar interferir no comportamento, nos valores e nas atitudes do observador, além de pontuar o texto que acompanha, isto é, destacar seu início e seu fim, ou chamar atenção para elementos do texto.

Na literatura infantil, especialmente a de ficção, podemos encontrar três tipos básicos de obras: 1) o livro ilustrado, em que a história é narrada principalmente pelo texto e as ilustrações pontuam o texto, como, por exemplo, A menina do narizinho arrebitado (1920), de Monteiro Lobato; 2) o livro de imagem, em que a história é narrada quase que apenas por imagens (exceto o título, o nome do autor etc.), como, por exemplo, Ida e volta (1976), de Juarez Machado; 3) o livro em que a história é narrada pelo texto e pelas ilustrações, a duas vozes, criando uma espécie de texto híbrido, verbal-visual, como Flicts (1969), de Ziraldo.

Todo livro infantil ilustrado, no entanto, pode ser lido como um texto híbrido, verbal-visual, em que ocorrem dois discursos, o verbal e o visual, criando, assim, um diálogo entre texto e ilustrações; no caso do livro de ficção, uma espécie de narrativa dialogada entre as duas linguagens. No diálogo entre texto e ilustrações pode ocorrer: 1) convergência de sentidos, quando os sentidos da ilustração convergem para os sentidos do texto; 2) contradição, quando o texto diz uma coisa e a ilustração outra – por exemplo, o texto refere-se a um gambá e a ilustração mostra outro animal. Mas nem toda contradição é necessariamente um erro. Por exemplo, ao ilustrar a fábula A cigarra e a formiga, de La Fontaine, Gustave Doré não representou dois animais, mas duas mulheres.

Nos livros de literatura infantil, o leitor não deve buscar apenas equivalências entre texto e ilustrações, mas uma relação dialógica – portanto, mutuamente enriquecedora –, pois os sentidos do texto se projetam sobre as ilustrações e vice-versa.


Verbetes associados: Letramento visual, Livro de imagens, Literatura infantil, Textos multimodais, Textos visuais


Referências bibliográficas:
DICCIONARIO de ilustradores ibero-americanos. Disponível em: www.smdiccionarioilustradores.com/index_i.php. Acesso em: 18 de abril de 2014.
HANNING, R.; MORAIS, O.; Paraguassu M. Traço e prosa: entrevistas com ilustradores de livros infantojuvenis. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
VAN DER LINDEN, S. Para ler o livro ilustrado. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
ZILBERMAN, R. Quando fala a ilustração. In: _____. Como e por que ler a literatura infantil brasileira. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. p. 155-164.

< voltar