Apropriação da linguagem escrita na Educação Infantil
Autor: Mônica Correia Baptista,
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização Leitura e Escrita (CEALE) e Núcleo de Estudos e Pesquisas em Infância e Educação Infantil (NEPEI),
A apropriação da linguagem escrita na Educação Infantil designa o processo educativo por meio do qual as crianças vão expandindo seus conhecimentos e suas experiências relacionadas à cultura escrita. Esse processo pressupõe situações de aprendizagem planejadas, sequenciadas, sistematizadas e desenvolvidas por profissionais qualificados e devidamente habilitados, que, de um lado, garantam o contato cotidiano das crianças com variados suportes e gêneros discursivos orais e escritos e, de outro lado, incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento e o conhecimento das crianças sobre a linguagem escrita.
O debate sobre o ensino e a aprendizagem da língua escrita na Educação Infantil esteve condicionado, durante algumas décadas, à pergunta: “alfabetizar ou não na pré-escola?” Do ponto de vista da pesquisa, essa falsa polêmica dificultou a elaboração e o debate acerca de importantes questões, por exemplo: “como dar continuidade a um processo de construção de conhecimento que se iniciou antes da entrada da criança numa instituição educativa?” “De que conhecimentos deve dispor um professor de crianças de 0 a 5 anos para estimular o processo de apropriação da linguagem escrita?” No âmbito das instituições de Educação Infantil, essa falsa polêmica gerou, de um lado, práticas pedagógicas que mantinham as crianças isoladas da linguagem escrita e, de outro lado, práticas que estimulavam as crianças a sonorizar letras, repetir oralmente sílabas ou fazer cópias de letras, de sílabas e de palavras sem uma preocupação com seus significados e contextos de uso. Atualmente, vem-se superando essa polêmica, entendendo-se que cabe às instituições educativas o dever de assegurar à criança o seu direito de interagir com a cultura letrada e dela participar desde a mais tenra idade.
Para que esse direito se efetive, destacam-se alguns princípios orientadores. Em primeiro lugar, as práticas educativas devem respeitar as especificidades da primeira infância, tomando como eixos norteadores as interações e a brincadeira. Em segundo lugar, devem entender a apropriação da linguagem escrita como um trabalho contínuo que requer intensa elaboração cognitiva e que se constitui como fonte de interações e de reflexão sobre si e sobre o mundo. Em terceiro lugar, devem promover e intensificar o contato da criança com diferentes gêneros discursivos, em especial com a literatura entendida como arte, superando uma visão instrucional e pragmática da mesma. Finalmente, espera-se que, nas creches e pré-escolas, as funções, os gêneros textuais, os diferentes suportes da escrita e as temáticas envolvidas nos textos disponibilizados sejam também objeto de reflexões acerca dos conteúdos e da estrutura dos textos. Esses princípios asseguram que a língua escrita seja parte constitutiva das interações entre os participantes e dos seus processos e estratégias interpretativas.
Verbetes associados: Alfabetização, Consciência fonológica, Consciência fonológica na alfabetização, Fonema, Jogos de alfabetização, Letramento, Psicogênese da aquisição da escrita
Referências bibliográficas:
BAPTISTA, M. C. O lugar da linguagem escrita no currículo da Educação Infantil. In: FAVACHO, A. M. P.; PACHECO, J. A. & SALES, S. R. Currículo: conhecimento e avaliação. Curitiba, PR: CRV, 2013. p. 209-220.
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