Competência discursiva
Autor: Luiz Carlos Travaglia,
Instituição: Universidade Federal de Uberlândia-UFU / Instituto de Letras e Linguística-ILEEL,
A noção de competência discursiva pode variar conforme o sentido que se dê ao termo discursivo, mas, de modo mais geral, a competência discursiva é definida como a capacidade do usuário da língua, que produz e compreende textos orais ou escritos, de contextualizar sua interação pela linguagem verbal (ou outras linguagens), adequando o seu produto textual ao contexto de enunciação. Este deve ser considerado seja em seu sentido restrito, que é a situação imediata em que a formulação linguística do texto acontece, seja em seu sentido amplo, que é o contexto sócio-histórico e ideológico. Portanto a competência discursiva representa o domínio das regras e princípios de uso da língua nas diversas situações.
A competência discursiva pode ser vista como uma hipercompetência que engloba e afeta as competências linguística e textual, pois permite ao usuário da língua perceber que as sequências linguísticas tomadas como textos não significam por si só, mas em função também de elementos exteriores à sequência linguística, como, por exemplo, entre outros: quem diz o quê; para quem; por quê / para quê; quando (inclusive em que momento da história); onde; quais são os papéis sociais dos interlocutores no momento da interação comunicativa verbal; quais suas crenças, como veem os elementos do mundo de que falam em seu texto; enfim, qual a ideologia (visão de mundo e crenças) que ‘enforma’ o texto.
A competência discursiva teria a ver com a atuação do usuário da língua em uma formação discursiva ou sócio-discursiva, entendida de uma maneira bem simples e mais operacional como o conjunto das formas específicas para estabelecer a significação, os sentidos que estão em funcionamento em um recorte sócio-histórico-ideológico de uma sociedade e cultura (“discurso machista”, “discurso neo-liberal”, “discurso petista”, por exemplo). A competência discursiva, nessa acepção, seria a capacidade do usuário da língua de reconhecer o que é dizível ou não numa formação discursiva, tanto para dizer o que pode ser dito quanto para saber o que esperar de determinado discurso. O discurso machista diz coisas que o discurso feminista não diz; o discurso religioso diz coisas que o discurso materialista não diz – saber lidar com isso faz parte da competência discursiva. Além disso, uma mesma palavra ou expressão pode assumir sentidos diferentes em formações discursivas diferentes. A palavra felicidade, por exemplo, ganha sentidos diferentes no discurso publicitário e no discurso religioso – perceber isso faz parte da competência discursiva.
Para o ensino de produção e compreensão de textos orais e escritos (portanto, no letramento), é importante atuar levando-se em conta a dimensão discursiva dos textos em seu funcionamento social, pois sem isso fica impossível considerar o grau de maior ou menor adequação e propriedade dos textos.
Verbetes associados: Competência comunicativa, Competência linguística, Discurso, Discurso institucional , Enunciação / enunciado, Texto,
Referências bibliográficas:
TRAVAGLIA, L. C. Gramática: Ensino plural. São Paulo: Cortez, 2011.
CHARAUDEAU, P.; MAINGUENEAU, D. Dicionário de Análise do Discurso. (Coord. da tradução: Fabiana Komesu). São Paulo: Contexto, 2004.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação - uma proposta para o ensino de gramática. São Paulo: Cortez, 2009.