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Compreensão leitora

Autor: Angela B. Kleiman,

Instituição: Linguística Aplicada, UNICAMP,

Compreensão leitora é a faculdade – no sentido de capacidade cognitiva complexa – de entender os significados dos textos escritos. É também o processo por meio do qual são postas em funcionamento as estratégias cognitivas e habilidades necessárias para compreender, que permitem que o leitor extraia e construa significados do texto, simultaneamente, para fazer sentido da língua escrita. Na compreensão leitora, estão envolvidos: um texto – objeto linguístico e cultural portador de um significado –; um leitor – com saberes, experiências, capacidades e habilidades; e uma situação comunicativa de interação entre leitor e autor via texto escrito, que determina em grande parte o que e como se compreende. Esses três elementos influenciarão o que o leitor lembrará a partir do texto, o que perceberá ou deixará de perceber, que tipos de inferências fará, como usará seus conhecimentos prévios, que hipóteses levantará, o que analisará criticamente; enfim, como ele responderá ao texto escrito, quais os sentidos que construirá nessa resposta. Além do texto e leitor interagindo numa situação, um quarto elemento importante na compreensão é a atividade de leitura, desenvolvida num local e tempo específicos, com objetivos e propósitos determinados.

A atividade de leitura visa a resultados específicos, dentro de um contexto social mais amplo, que inclui também a instituição na qual se realiza a atividade e as normas sociais que determinam como são lidos os textos nessa instituição. Por exemplo, se a atividade, na escola, consiste em “ler um parágrafo para fazer um resumo”, o sucesso na atividade depende de o aluno aceitar essa injunção ou instrução (porque tem curiosidade sobre o assunto, porque a atividade lhe é relevante, porque quer ser bem avaliado pela instituição escolar). Se, na sua casa, a atividade de leitura desse mesmo leitor envolve a leitura de um manual para saber as regras de um jogo virtual, a variável anterior – “aceitar a injunção” – não é relevante, porque o propósito da atividade é internamente gerado, não imposto de fora.

A compreensão leitora tem sido foco de interesse de psicólogos cognitivos, que tentam descrever como e quais são as estratégias mentais usadas para compreender o texto escrito. Na atividade de leitura, é importante o professor ajudar o aluno a entender o conteúdo do texto; porém, mais importante ainda é ajudá-lo a se tornar um leitor autorregulado (ou seja, que tenha objetivos claros para a realização das suas atividades de leitura), ativo (isto é, que engaje seu corpo e mente na leitura), e possuidor de uma gama variada de estratégias de compreensão, como predição, levantamento e verificação de hipóteses, extrapolação e inferência.

Na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, várias dessas estratégias de compreensão leitora são implementadas pelo professor, inicialmente um mediador adulto da leitura que apresenta às crianças um repertório de textos, estabelece contextos e objetivos, informa, faz perguntas que ajudam os alunos a fazerem predições sobre o que determinado texto quer dizer. Gradativamente, o leitor vai se tornando mais autônomo, estabelecendo ele mesmo as maneiras de ler e de compreender.


Verbetes associados: Antecipação na leitura (predição), Conhecimentos prévios na leitura, Extrapolação na leitura, Habilidades linguísticas, Inferência na leitura, Levantamento de hipóteses de leitura, Texto


Referências bibliográficas:
KLEIMAN, A. B. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas, SP: Pontes Editores, 2013.
SOLÉ, I. Estratégias de leitura. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1998.

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