Extrapolação na leitura
Autor: Ana Elisa Ribeiro,
Instituição: Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais-CEFET-MG / Departamento de Linguagem e Tecnologia,
Popularmente, extrapolar significa “ir além”, ultrapassar os limites, exceder. Em leitura, a extrapolação é considerada um problema, uma questão a ser melhorada na formação leitora. A leitura de um texto demanda atualizações, conexões, inferências, percepções e inter-relações, mobilizando uma série de habilidades que o indivíduo desenvolve ao longo de sua formação. A extrapolação vai além dessas habilidades, podendo ser, inclusive, uma estratégia para camuflar a incompreensão de um texto.
Desde a alfabetização, os alunos podem falar o que pensam sobre um texto lido, simplesmente a partir de sua relação com o tema, de sua preferência, de gosto ou desprazer de lê-lo, sem passar pelo conteúdo interno do texto, propriamente dito. Extrapolar, em leitura, é superinterpretar, compreender o que o texto não disse, construir um texto lido que ultrapasse em muito o que pode ser depreendido do texto. A extrapolação na leitura é uma espécie de derivação ou digressão que o leitor faz com base em marcas do texto das quais ele se desvia muito, fazendo conexões errôneas; ou, ainda, exatamente sem base no texto, isto é, sem prestar atenção ou sem ter habilidade de ler linhas e entrelinhas.
A extrapolação é considerada um problema de leitura, como se disse, exceto se ela for parte da proposta de atividade do professor, por exemplo. Há casos em que um texto pode servir de pretexto para a produção de outro ou um debate muito amplo. Quando não é esse o caso, a extrapolação deve ser tratada como algo que pode levar à “leitura errada” ou a uma interpretação sem fundamento do material textual e discursivo. É claro que isso é relativo ao gênero textual lido, por exemplo, já que ler um poema ou um anúncio publicitário é bastante diferente de ler um relato de uma excursão ou uma instrução de montagem. Na alfabetização, o professor trabalha com gêneros textuais mais fechados (receita, instrução de jogo, texto de divulgação científica) ou abertos, como as poesias e os contos.
Certamente, as crianças podem se expressar sobre seu gosto por uma história ou poema, mas precisam compreender o que diz o texto. Em alguns casos, não é possível fazer extrapolações, pois o texto é mais fechado, como uma receita ou instrução de jogo. Assim, em certos casos, as marcas do texto podem permitir menor ou maior abertura à leitura. Cabe ao professor analisar casos de extrapolação com cuidado, para que possa intervir na formação leitora mais ajustada às condições que o texto oferece. Isso pode ocorrer desde os primeiros anos de alfabetização, para que os alunos aprendam a refletir sobre tais condições e os professores identifiquem incompreensões limitadoras e ampliações pertinentes aos textos lidos.
Verbetes associados: Compreensão leitora, Decodificação, Gêneros e tipos textuais, Inferência na leitura, Informação explícita no texto, Informação implícita no texto, Leitor proficiente, Leitura
Referências bibliográficas:
SMITH, F. Compreendendo a leitura: uma análise psicolinguística da leitura e do aprender a ler. Porto Alegre: Artmed, 2003.
SOLÉ, I. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998