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Dislexia

Autor: Valéria Barbosa de Resende,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

A dislexia é a uma dificuldade específica no módulo fonológico, ou seja, uma dificuldade para reconhecer, associar e ordenar os sons e as letras; os outros campos da linguagem, como o discurso, a sintaxe e a semântica não são afetados, e também não há comprometimento intelectual, auditivo ou visual. As dificuldades da pessoa com dislexia persistem mesmo quando ela está motivada, quando sua escolarização é considerada adequada e quando está inserida em um ambiente sociocultural favorável.

O conceito de dislexia surgiu, inicialmente, na área médica, atrelado à ideia de patologia. O primeiro relato foi descrito pelo médico britânico Pringle Morgan, em 1896, que apresentou o caso clínico de um jovem de 14 anos que, apesar de ser inteligente e não possuir nenhum problema visual ou mental, tinha uma incapacidade quase absoluta em relação à linguagem escrita. Em 1900, James Hinshelwood, oftalmologista escocês, postulou a existência de uma cegueira verbal congênita. Na América, o conceito de “dislexia do desenvolvimento” foi proposto por Samuel T. Orton (1937), cuja tese das dificuldades no disléxico baseava-se na distorção dos símbolos. No Brasil, a dislexia foi caracterizada por Cacilda Cuba dos Santos (1975), que sugeriu o conceito de “dislexia de evolução”. A dislexia do desenvolvimento, ou de evolução, diz respeito às dificuldades no processo de apropriação da escrita pela criança; já a dislexia adquirida é encontrada em sujeitos que perderam a capacidade de ler e escrever, em decorrência de uma doença ou um acidente envolvendo traumatismo craniano.

Os estudos atuais sobre a dislexia do desenvolvimento rejeitam a hipótese de doença neurológica, indicando que ela não pode ser claramente diagnosticada, e exploram a hipótese de uma condição hereditária ou congênita. Além disso, chamam atenção para o “paradoxo da dislexia”, ou seja, o pensar e o raciocinar dos disléxicos ficam intactos e, às vezes, até ampliados, mas estes apresentam problemas elementares envolvendo a consciência fonológica. Tais problemas consistem em dificuldades para nomear as letras, reconhecer rimas, ordenar as letras na escrita de palavras (nixuga para enxugar); confusão entre letras parecidas (cinento para cimento); trocas surdas/sonoras (ituta para estudar); omissões de letras (epicacao para explicação), afetando o processamento linguístico da leitura pela via fonológica. Também apresentam dificuldades na memorização imediata e no acesso rápido às palavras, mostrando falhas no processamento linguístico da leitura pela via lexical. Além disso, possuem problemas ortográficos frequentes e persistentes.

No entanto,  nas estatísticas, o número de disléxicos é aumentado porque, de forma equivocada e apressada, passa a ser considerada  como disléxica qualquer pessoa com alguma dificuldade de aprender a ler e a escrever no período da aquisição desse aprendizado, ou seja, da alfabetização. É que existe um contínuo que vai da boa leitura à má leitura, e o ponto onde podemos traçar uma linha e dizer que as crianças abaixo desta são candidatas ao rótulo de disléxicas é arbitrário; além disso, é preciso suspeitar de um percentual alto de crianças em fase  escolar  com dislexia, pois uma simples alteração de critérios pode mudar radicalmente essa percentagem.


Verbetes associados: Consciência fonológica, Leitura , Ortografia


Referências bibliográficas:
BARBOSA, T. et al. Temas em dislexia. São Paulo: Artes Médicas, 2009.
MASSI, G. A dislexia em questão. São Paulo: Plexus, 2007.
SHAYWITZ, S. Entendendo a dislexia. Porto Alegre: Artmed, 2006.
ZORZI, J. L. Guia prático para ajudar crianças com dificuldades de aprendizagem: dislexia e outros distúrbios. Pinhais: Melo, 2008.

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