Leitura
Autor: Delaine Cafiero Bicalho,
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Letras,
A leitura já foi considerada apenas como uma atividade mecânica de decodificar palavras, ou de extrair sentidos que supostamente estariam prontos no texto. Ao se pensar desse modo, a crença era a de que, para se tornar um leitor competente, bastava aprender a ler nos anos iniciais de escolaridade e depois o aluno já saberia ler qualquer texto.
Hoje já se sabe que a leitura é uma atividade complexa, em que o leitor produz sentidos a partir das relações que estabelece entre as informações do texto e seus conhecimentos. Leitura não é apenas decodificação, é também compreensão e crítica. Isso significa que o bom leitor precisa realizar essas ações sobre o texto. A decodificação é uma parte da leitura, na qual o leitor, basicamente, junta letras e forma sílabas; junta sílabas e forma palavras e junta palavras para formar frases. No processo de leitura, à medida que informações de um texto vão sendo decodificadas e o leitor consegue estabelecer relações entre essas informações e os seus conhecimentos prévios, unidades de sentido vão sendo construídas. Ou seja, a compreensão se processa. Ao compreender o texto, o leitor é capaz de apreciar o que ele diz, é capaz de se posicionar, é capaz de realizar a crítica ao que é dito.
A leitura é tanto uma atividade cognitiva quanto uma atividade social. Como atividade cognitiva, pressupõe que, quando as pessoas leem, estão executando uma série de operações mentais (como perceber, levantar hipóteses, localizar informações, inferir, relacionar, comparar, sintetizar, entre outras) e utilizam estratégias que as ajudam a ler com mais eficiência. Como atividade social, a leitura pressupõe a interação entre um escritor e um leitor, que estão distantes, mas que querem se comunicar. Fazem isso dentro de condições muito específicas de comunicação, pois cada um desses sujeitos (o escritor e o leitor) tem seus próprios objetivos, suas expectativas e seus conhecimentos de mundo.
É importante que a escola toda – e não somente professores dos anos de alfabetização – esteja consciente de que a leitura pode ser ensinada em todas as disciplinas e em todos os anos de escolaridade, isto é, podem ser ensinadas estratégias de leitura que ajudam o leitor a ler melhor. Outra consideração para quem ensina é que é importante ajudar o leitor a ler com objetivos determinados. Isto é, ler para interagir com um autor à distância por meio do texto escrito, buscando prazer, ou distração, ou informação, ou conhecimento. Os diferentes gêneros discursivos se prestam a diferentes objetivos de leitura, e para cada um há uma estratégia específica, mais eficaz. Por exemplo, ler um cardápio, num bar, ou ler uma enciclopédia buscando informações, ou ler um livro didático para estudar e aprender, ou ler uma revista em quadrinhos para se distrair – cada um desses processos é diferente dos outros e requer procedimentos diferentes. Há grandes vantagens em se pensar a leitura desse modo. A principal delas é a de mostrar que existem formas para aumentar a competência em leitura ao longo da vida, isto é, que o ensino de leitura não é uma etapa pontual que se esgota na alfabetização.
Verbetes associados: Antecipação na leitura (predição), Compreensão leitora, Conhecimentos prévios na leitura, Decodificação, Inferência na leitura, Leitor proficiente, Levantamento de hipóteses de leitura, Práticas de leitura , Texto
Referências bibliográficas:
KLEIMAN, A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 2000.
KOCH, I. V; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.
SMITH, F. Compreendendo a leitura: uma análise psicolinguística da leitura e do aprender a ler. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.