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Métodos de palavração e de sentenciação

Autor: Isabel Cristina Alves da Silva Frade,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

Os métodos de palavração e de sentenciação são agrupados no conjunto de métodos analíticos que partem de unidades de significado. Alguns autores também os chamam de globais, destacando algumas diferenças. No método de palavração, a ênfase recai na palavra, e não no texto; na sentenciação, a ênfase incide na palavra ou na frase.

Comênio é apontado como introdutor do método da palavração, por volta da segunda metade do século XVII. Ao longo da história de sua utilização, algumas das vantagens destacadas têm sido: a ligação entre a palavra e a unidade do pensamento (percepção de ideias); a ênfase no significado; a busca de leitura como fonte de prazer e informação.

Geralmente, na palavração, as palavras são apresentadas em agrupamentos e os alunos aprendem a reconhecê-las pela visualização e pela configuração gráfica. Os defensores da memorização pelo perfil gráfico acreditam ser essa estratégia cognitiva algo “natural” no ser humano. Para o desenvolvimento de atividades, são utilizados como procedimentos cartões para fixação, com palavras de um lado e figuras de outro; exercícios para o ensino do movimento de escrita de cada palavra, entre outros. No entanto, o recurso de ilustração nem sempre é consensual nos defensores deste método que preconizam a memorização de um conjunto de palavras, apresentadas como flash.

Ao mesmo tempo em que são incentivadas estratégias de leitura inteligente, a atenção do aluno pode ser dirigida a detalhes da palavra, como letras, sílabas e sons, o que caracteriza este método como analítico-sintético. Essas duas estratégias reunidas garantiriam o enfrentamento de textos novos.

No início do século XX, registram-se várias críticas aos silabários e aos métodos que apresentam a língua deslocada dos significados para a criança. Em Minas Gerais, em 1907, o autor Arthur Joviano cria seu método de palavração. Ao contrário dos adeptos do uso da ilustração, esse autor condena o uso de recursos que não sejam a forma da palavra. Segundo ele, o aluno deveria ligar a ideia à forma e, assim, a palavra “se desenhará na sua retina, figurando-se como se fosse a própria constituição orgânica da ideia expressa”. Seu livro apresenta lições com várias listas de palavras já exploradas oralmente em classe. As palavras impressas em listas aparecem em colunas, em diferentes posições, para que o aluno as reconheça em qualquer posição. Sugere-se que a decomposição ou análise seja empreendida apenas com algumas poucas palavras retiradas dessas listas, para serem reconhecidas globalmente, bem depois do tempo da lição de apresentação inicial, com o intuito de não incentivar demasiadamente o trabalho de decomposição.

O método de sentenciação enfatiza a sentença como unidade que, depois de reconhecida e compreendida globalmente, será decomposta em palavras e, finalmente, em sílabas. Um outro procedimento é a estratégia de comparar palavras e isolar elementos nelas reconhecidos, para ler e escrever palavras novas.

Braslavsky descreve o método da frase com um significado similar ao método de sentenciação, destacando que nele se faz o uso de um grupo de palavras com sentido desde o começo da alfabetização. Segundo a autora, o ponto de partida são atividades de expressão oral das crianças, cujos enunciados são simplificados em orações simples e escritos em faixas de distintos tamanhos, exibidas na sala de aula para que as crianças possam ilustrá-las, conservando-as numa certa ordem. Essas frases podem depois ser consultadas para que as crianças encontrem novas palavras e combinações.

Como principais desvantagens desses métodos, apontam-se as falhas na aprendizagem de palavras novas, se os professores mantêm a simples visualização, sem incentivar a análise e o reconhecimento de partes da palavra. Atualmente, é comum a utilização, nas classes de alfabetização, de palavras estáveis, como os nomes próprios, nomes de personagens, expressões de parlendas e outras mais frequentes, que posteriormente podem ser usadas para análise e comparação de segmentos menores como letras, sílabas e palavras.


Verbetes associados: Método global, Métodos e metodologias de alfabetização, Palavra, Sílaba


Referências bibliográficas:
BRASLAVSKY, B. O método: panaceia, negação ou pedagogia? Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n. 66, ago. 1988.
FRADE, I. C. A. S. Métodos de alfabetização, métodos de ensino e conteúdos da alfabetização: perspectivas históricas e desafios atuais. Educação (UFSM), v. 32, p. 21-40, 2007.
MORTATTI, M. R. L. Os sentidos da alfabetização. São Paulo: INESP/CONPED/INEP, 2000.
SOARES, G. R. Estudo comparativo dos métodos de ensino da leitura e da escrita. 4.ed. Rio de Janeiro: Papelaria América Editora, 1986.

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