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Proposta de Paulo Freire para a alfabetização

Autor: Francisca Izabel Pereira Maciel,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

Ainda que a referência mais conhecida seja Método Paulo Freire, este autor jamais criou um método de alfabetização. Proposta é um termo mais adequado aos fundamentos defendidos pelo educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997). Um deles consistia na criação de um “Círculo de Cultura”, constituído por uma turma de alfabetizandos e um professor orientador, que incentivava os alunos a falarem de suas vidas na comunidade em que viviam. O Círculo era também a forma espacial de disposição de alunos e professor na sala de aula, pois a “roda” favorecia o diálogo, a interação entre todos.

A linguagem e o diálogo, elementos constitutivos da teoria mais ampla de Paulo Freire, eram os pontos de partida para pesquisa, organização e levantamento investigativo do universo vocabular e dos eixos temáticos significativos da vida dos alunos, a partir dos quais se definia o material a ser utilizado na aprendizagem da leitura e da escrita. Ao tematizar com os alunos a sua realidade, o orientador do Círculo enfatizava a conscientização e a superação da visão acrítica do mundo, a partir dos significados sociais discutidos e da seleção de palavras geradoras advindas do universo vocabular e coletivo do grupo. As palavras constituem a unidade menor da pesquisa, assim como os fonemas, a unidade menor da proposta de ensino.

A proposta didática de Paulo Freire não pode ser entendida em sentido metodológico estrito, por ser um processo dinâmico, que se faz e refaz enquanto é desenvolvido. Estaria mais próxima de um “método processual coletivo de alfabetização”, sendo impossível determinar as palavras e os temas gerados em cada comunidade, estado ou país. Entretanto, alguns princípios são centrais na organização do trabalho pedagógico: a pesquisa de campo, a coleta de material, a análise coletiva desse material, a definição das palavras geradoras e os eixos temáticos. A aquisição do sistema de escrita pressupõe, na proposta, a decodificação das palavras geradoras e o incentivo à formação de novas palavras, frases e pequenos textos contextualizados e carregados de sentidos para os alfabetizandos.

No Brasil, a década de 1960 foi marcada pelas primeiras ações envolvendo esta proposta de alfabetização. Iniciado em Pernambuco, o movimento ganhou amplitude nacional em 1963, com o Programa de Educação de Adultos, coordenado por Freire. Com o golpe militar em 1964, o educador foi exilado e seu ideário de alfabetização considerado subversivo.

Atualmente, é forte a presença dos princípios freireanos na produção dos livros didáticos voltados para a Educação de Jovens e Adultos, principalmente com propósitos de alfabetização, seja na organização por eixos temáticos adequados a esse público – tais como identidade, trabalho, saúde –, seja na utilização do princípio metodológico de palavras geradoras. Entretanto, não se pode reduzir esta proposta a um elenco de palavras e temas supostamente considerados geradores, definidos a priori, para serem usados de forma universal, em larga escala, em todo o Brasil.


Verbetes associados: Alfabetização de jovens e adultos, Analfabetismo, Fonema, Métodos e metodologias de alfabetização, Palavra


Referências bibliográficas:
BRANDÃO, C. R. O que é método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 2004.
FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (orgs.). Paulo Freire: dicionário. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

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