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Alfabetização de jovens e adultos

Autor: Francisca Izabel Pereira Maciel,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

Em sentido estrito, alfabetização é o ensino e a aprendizagem do sistema alfabético de escrita. Assim, indivíduos alfabetizados – crianças, jovens ou adultos –  deverão ser capazes de codificar e decodificar esse sistema, por meio da escrita e da leitura.  O que difere a alfabetização de jovens e adultos da alfabetização de crianças é especialmente o público a quem se destina essa aprendizagem. Os processos cognitivos se assemelham, parcialmente, mas também guardam grandes diferenças. As semelhanças estão no processo ativo do aprendiz, através de construção e reconstrução de hipóteses sobre a escrita – de acordo com estudos da psicogênese da aquisição da  língua escrita.

Entretanto, a alfabetização de jovens e adultos foi, durante muitos anos, concebida e desenvolvida igualmente ao que se propunha na alfabetização de crianças. As didáticas, metodologias e até mesmo as cartilhas direcionadas a esse público não se diferenciavam daquelas dirigidas às crianças. A infantilização de textos e atividades era – e, em muitos casos, ainda persiste – repassada a jovens e adultos, sem levar em conta seus conhecimentos e ciclos de vida, suas experiências e expectativas, seus desejos e suas necessidades em relação ao aprender a ler e a escrever. A alfabetização de jovens e adultos também apresenta exigências especiais na formação daqueles que vão atuar junto a esse público. Professores alfabetizadores precisam ter conhecimentos sobre peculiaridades dos interesses de jovens e adultos, muito diferentes dos das crianças;  ao mesmo tempo, precisam reconhecer que eles manifestam diferenças, entre si,  nas expectativas e demandas no que diz respeito ao aprendizado.

Na década de 60 do século XX, o educador Paulo Freire marcou bem a especificidade do campo da alfabetização de jovens e adultos, ao apresentar uma proposta conscientizadora que levasse em conta não só a aquisição do sistema de escrita, mas também a cultura da comunidade e a visão crítica do mundo.  Atualmente, os programas direcionados  a esse campo agregam  ao pensamento pedagógico freireano a compreensão mais ampla de processos de letramento e, portanto, a concepção de que a alfabetização não se reduz às habilidades de decodificação e codificação do sistema de escrita. É essencial, portanto, que o alfabetizando compreenda e vivencie as funções reais da escrita em nossa sociedade, para que seu aprendizado sirva como instrumento de luta na conquista da cidadania. Assim, pressupostos teóricos e metodológicos de propostas curriculares ou métodos de alfabetização de jovens e adultos devem garantir o acesso à alfabetização associado aos usos e às funções sociais da língua escrita, para que os jovens e adultos alfabetizados de hoje não se tornem os analfabetos funcionais de amanhã.


Verbetes associados: Alfabetização, Alfabetização funcional, Analfabetismo, Cartilhas e materiais para aprender a ler, Letramento, Proposta de Paulo Freire para a alfabetização , Psicogênese da aquisição da escrita


Referências bibliográficas:
BRASIL. Proposta Curricular de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Brasília, MEC, 2001.
CEALE. Faculdade de Educação/UFMG. Jornal Letra A, Edição Especial, Ano 2, jun/jul 2006.

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