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Sistemas de escrita

Autor: Gilcinei Teodoro Carvalho,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

A classificação de um sistema de escrita depende fundamentalmente da sua possibilidade de indicar uma lógica de funcionamento que permita atribuir a ele certa regularidade e, portanto, justificar a existência de um sistema, com a complexidade prevista nos seus dispositivos de organização. Assim, dois princípios básicos regem a definição sobre o que um sistema vai prioritariamente registrar: o significado (e seus aspectos mais conceituais) ou o significante (os aspectos mais estruturais, ligados à forma). No primeiro caso, atua o princípio logográfico ou ideográfico, que registra elementos que permitem associar pensamentos e ideias (ex. os ideogramas chineses) e, no segundo caso, atua o princípio fonográfico, que grafa elementos que remetem aos sons (ex. as letras que representam os fonemas).

O sistema de escrita da língua portuguesa segue o princípio fonográfico, o que indica uma relação entre a grafia e os aspectos sonoros. No entanto, os sistemas fonográficos podem diferir em função do elemento sonoro que será privilegiado: a forma gráfica pode registrar uma sílaba (uma escrita fonográfica silábica) ou a forma gráfica pode registrar um fonema (uma escrita fonográfica alfabética). Há sistemas em que as letras remetem sistematicamente a sílabas e há sistemas em que as letras remetem a fonemas. O português prevê, em sua escrita, uma relação entre letras e fonemas, o que o caracteriza como um sistema alfabético. A definição do funcionamento do sistema alfabético não se esgota nessa relação, principalmente porque não há uma correspondência biunívoca entre letras e fonemas. A arbitrariedade dessas relações manifesta-se em muitos casos e a única forma de dominá-las é a aplicação de convenções apontadas pela ortografia, a forma correta de se grafar, independentemente do princípio que rege o sistema.  

O reconhecimento de um princípio de funcionamento não anula a emergência de diferentes critérios em um mesmo sistema, o que permite identificar a sua natureza sempre heterogênea e híbrida. Quanto mais a grafia de uma palavra é atribuída a sua origem e a sua história (sua etimologia), maior é a manifestação do princípio ideográfico. Um exemplo é a letra “h” no início de palavras. Nesse caso, a referência à cadeia sonora não vai indicar pista alguma para legitimar a escolha da grafia, mesmo quando a escrita está sob a lógica do princípio fonográfico, já que o “h” inicial é mudo. O contrário também é verdadeiro, pois sistemas ideográficos podem registrar sons. Com esse traço heterogêneo, do ponto de vista do usuário, é preciso, para um uso efetivo do sistema, compreender o princípio que governa o seu funcionamento, mas também reconhecer os seus desvios e as suas marcas de arbitrariedade.


Verbetes associados: Apropriação do sistema de escrita alfabética, Fonema, Convenções da escrita, Convenções ortográficas, Ortografia, Regras ortográficas, Signo linguístico


Referências bibliográficas:
CAGLIARI, L. C. Alfabetização & Linguística. São Paulo: Scipione, 1989.
GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1985.
OLSON, D. R. O mundo no papel. São Paulo: Ática, 1997.

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