Experiência estética literária
Autor: Maria Antonieta Antunes Cunha,
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Letras-FALE,
Ainda que tanto a Estética (parte da Filosofia voltada para a reflexão relativa à Beleza e ao fenômeno das Artes) como a Literatura sejam conceitos sempre em discussão, podemos entender a experiência estética literária como a soma da percepção/apreensão inicial de uma criação literária e das muitas reações (emocionais, intelectuais ou outras) que esta suscita, em função das características específicas postas em jogo pelo autor na sua produção. Tal produção literária é – ela também – uma experiência estética, cujo resultado seu criador quer fazer único e inconfundível, com marcas que ele gostaria que fossem percebidas pelo leitor como pegadas no caminho da leitura de sua obra.
Assim, na descoberta dessas, mas também de outras marcas do texto, o leitor tem um papel de criação. Mais ainda do que nos outros tipos de leitura, em função das especificidades da arte literária, para essa experiência estética têm importância conhecimentos prévios do leitor, sua sensibilidade e todo o contexto no qual ele e a obra estão inseridos. Isso torna a experiência com a leitura da obra literária algo tão rigorosamente pessoal para o leitor quanto foi a criação para seu autor. Por isso mesmo, é insubstituível a fruição surgida do contato direto (por audição, leitura ou até assistência da representação, no caso do teatro) com a obra literária: nenhuma resenha, nenhuma palavra de entusiasmo, nenhuma excelente ação de mediação que se faça necessária, para facilitar o encontro do leitor com a obra, pode dispensar seu corpo a corpo com o texto literário.
Essa experiência estética tem muitos níveis, assim como diferentes temporalidades, dependendo de tantos elementos que entram em sua constituição e também do quanto cada um investe nela. Várias leituras de uma mesma obra literária constituirão experiências estéticas, em algum grau, diferentes. Por outro lado, um romance volumoso, por exemplo, pode exigir uma experiência que se construa em prazo longo. A literatura é uma arte no tempo, e a experiência estética de uma obra literária não se pode dar completamente antes da fruição /conhecimento de toda a obra.
Do conjunto das experiências com e na literatura é que vão se formar o gosto, as preferências do leitor e sua capacidade de apurar sua forma de perceber e fruir novas experiências estéticas no campo da literatura. Daí a necessidade de a escola, que deve ter como um de seus objetivos o desenvolvimento da leitura literária em seus alunos, insistir na mediação constante e iluminadora da leitura, fazendo da fruição de obras literárias uma experiência reiterada, e não casual, no cotidiano não só da sala de aula e da biblioteca, mas de todo o espaço escolar.
Verbetes associados: Leitura literária, Letramento Literário, Literatura infantil, Mediação literária na Educação Infantil, Roda de leitura
Referências bibliográficas:
CUNHA, M. A. A. Literatura Infantil: Teoria e Prática. São Paulo: Ática, 1983.
ECO, U. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
OLIVEIRA, I. O que é qualidade na literatura infantil e juvenil?: com a palavra o educador. São Paulo: DCL, 2008.