Leitura literária
Autor: Graça Paulino,
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,
A leitura se diz literária quando a ação do leitor constitui predominantemente uma prática cultural de natureza artística, estabelecendo com o texto lido uma interação prazerosa. O gosto da leitura acompanha seu desenvolvimento, sem que outros objetivos sejam vivenciados como mais importantes, embora possam também existir. O pacto entre leitor e texto inclui, necessariamente, a dimensão imaginária, em que se destaca a linguagem como foco de atenção, pois através dela se inventam outros mundos, em que nascem seres diversos, com suas ações, pensamentos, emoções.
A linguagem se mostra não apenas um meio de comunicação, mas um objeto de admiração, como espaço da criatividade. Misturada à vida social, a leitura literária merece atenção da comunidade, por constituir uma prática capaz de questionar o mundo já organizado, propondo outras direções de vida e de convivência cultural. Em sociedades ágrafas, circulam textos literários orais, através de brincadeiras com sons das palavras, contações de histórias, além das criações de imagens desenhadas ou esculpidas. Tais práticas ocorrem também hoje no mundo letrado, entre sujeitos alfabetizados ou não, o que permite que se amplie o universo da interação leitor-texto.
Entretanto, há que se definir a identidade da leitura literária através do emprego da língua numa arte específica, que se costuma, desde o latim, denominar literatura. Tal termo pode ter outros empregos, com outros sentidos, mas a arte literária, objeto da leitura literária, tem seu espaço bem marcado em nossa sociedade. Como a leitura na escola é ensinada e aprendida de forma ligada a diversos discursos e gêneros textuais, especificidades da leitura literária convivem com as de outros tipos de leitura, como a científica, a filosófica, a informativa. Essas leituras, embora diversas e requerendo estratégias diferentes dos leitores, têm pontos em comum, que podem ser trabalhados por professores e alunos. Leitura alguma sobrevive bem como prática cultural, quando censurada ou tolhida por autoridades do Estado, da família ou da escola.
Especialmente a leitura literária requer liberdade, cujo único limite é o respeito pela leitura do outro, que pode apresentar suas singularidades. As preferências de cada um são respeitadas para que ocorra de fato uma leitura literária. Como a escola tende a homogeneizar comportamentos, o cuidado das autoridades nesse primeiro momento se torna fundamental. Posteriormente, a mediação docente que não reprima, mas incite a imaginação de cada aluno no pacto com o texto, também constitui um componente essencial do processo escolarizado de leitura literária.
Verbetes associados: Enunciação / enunciado, Experiência estética literária, Letramento Literário, Literatura infantil, Modos de ler na infância, Pacto ficcional
Referências bibliográficas:
GAMA-KHALIL, M.; ANDRADE, P. (orgs.). As literaturas infantil e juvenil... ainda uma vez. Uberlândia: GpEA - CAPES, 2013.
PAULINO, G. Algumas especificidades da leitura literária. In: PAIVA, A. et al. (orgs.). Leituras literárias: discursos transitivos. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
PAULINO, G.; COSSON, R. (orgs.). Leitura literária: a mediação escolar. Belo Horizonte: FALE UFMG, 2004.
YUNES, E. (org.). Dizer e fazer. Rio de Janeiro: Reflexão, 2011.