Mediação literária na Educação Infantil
Autor: Beatriz Cardoso,
Instituição: Laboratório de Educação (Labedu),
Mediação é um termo difícil de definir, uma vez que, para além de seu significado estrito, nos referimos a uma prática. Mediar significa estar entre duas coisas; no caso específico da mediação literária na Educação Infantil, entre o livro de literatura infantil e a criança. No entanto, efetivamente, o que faz a diferença é o tipo de ação propiciada ao mediar o acesso ao objeto livro. Se entendermos o termo sob essa conotação, abre-se um leque de aspectos a serem considerados nesta relação: desde o estabelecimento de critérios para a seleção do texto, até a ênfase, a intencionalidade de cada leitura e seus desdobramentos para além da leitura em si.
Um trabalho pedagógico comprometido com a democratização de oportunidades e redução da inequidade requer a criação de condições que permitam ir além do acesso aos livros e da discussão sobre seu conteúdo. Nesse sentido, a mediação literária pode se constituir em elemento- chave para o desenvolvimento cognitivo dos pequenos e para que o discurso letrado tenha lugar, desde muito cedo, no cotidiano das crianças.
A escrita não é apenas um meio para aceder a novas informações; ela nos permite tomar consciência das propriedades implícitas da linguagem. E, na medida em que a linguagem em si ganha visibilidade, é possível oferecer condições para a criação de um novo tipo de pensamento e discurso que caracteriza a cultura letrada. Livros de literatura infantil são materiais que favorecem uma perspectiva reflexiva, conceitual, experiencial e de resolução de problemas. Portanto, quando explorados adequadamente, se transformam em estímulo por meio do qual a criança tem a oportunidade de falar e perguntar sobre o conteúdo e sobre a forma do texto.
A mediação realizada por alguém mais experiente pode dar oportunidades para que a criança, desde muito pequena, converse sobre as várias dimensões apresentadas por um texto, sejam elas linguística, metalinguística ou de conteúdo. Ao se ter clareza do “por que ler” e de “como ler” determinado texto, é possível chamar a atenção para a sua materialidade gráfica (sinais de pontuação, tipografia, tamanho etc.), para as escolhas textuais, os personagens, o tipo de narrador, o vocabulário, os marcadores temporais, entre outros aspectos.
Assim sendo, quando se fala de mediação literária na Educação Infantil, se ultrapassa a ação estrita de ler para que as crianças se relacionem com livros e se coloca, portanto, como desafio, dar visibilidade à linguagem a fim de introduzi-las no universo letrado desde a primeira infância.
Verbetes associados: Alfabetização, Ambiente alfabetizador, Cultura escrita, Ilustração em livros de literatura infantil, Leitura em voz alta, Letramento, Letramento Literário, Práticas de leitura , Zona de desenvolvimento proximal
Referências bibliográficas:
SEPÚLVEDA, A. Incorporação de práticas letradas na alfabetização, Cadernos Cenpec, v. 2, n. 2, 2012. Disponível em: http://www.cadernos.cenpec.org.br/cadernos/index.php/cadernos/article/view/184/212 .
TEBEROSKY, A.; COLOMER, T. Aprender a ler e escrever – uma proposta construtivista. Porto Alegre: Artmed, 2003.
Olson, D. O mundo no papel. São Paulo: Ática, 1997.