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Fonética

Autor: Ana Ruth Moresco Miranda,

Instituição: Universidade Federal de Pelotas / Grupo de Estudos sobre Aquisição da Linguagem Escrita (GEALE),

Fonética é a ciência que estuda os sons da fala a partir de diferentes perspectivas: a articulatória, a acústica e a perceptual ou auditiva. A fonética articulatória descreve o modo como os sons, consoantes e vogais, são universalmente produzidos pelo aparelho fonador humano. Os termos utilizados para a descrição referente à articulação das unidades sonoras são originários da anatomia e da fisiologia e dizem respeito a quatro parâmetros principais: i) o ponto ou lugar da cavidade oral em que o som é produzido (quais os articuladores envolvidos – lábios, dentes, língua, alvéolos e palato); ii) o modo como a ar é expelido para  produzir a fonação (de maneira abrupta após uma oclusão, de forma contínua, com a saída pela cavidade nasal, etc.); iii) o comportamento das pregas vocais (que podem vibrar ou não durante a passagem do ar pela laringe); iv) a posição do palato mole (que pode fechar ou não a passagem do ar pela cavidade nasal). Já a fonética acústica é o ramo que se volta para as propriedades físicas dos sons. A análise das unidades sonoras, por essa perspectiva, lança mão de princípios da física e da matemática e os sons linguísticos são descritos como ondas sonoras que se propagam através do ar. A fonética perceptual ou auditiva, por seu turno, ocupa-se do estudo relativo ao modo como o ouvido humano processa a informação auditiva. Essa área de estudos está em interface com a neurologia e a psicologia uma vez que pretende investigar o modo como ocorre o processamento do sinal acústico pelo cérebro do ouvinte. 

A dimensão linguística da fonética emerge da conjunção de informações acerca das propriedades físicas, acústicas e perceptuais dos sons com aquelas referentes ao funcionamento das unidades sonoras no sistema linguístico. Para estudarmos, pois, as pequenas partes constitutivas da fala, as unidades segmentais, isto é, consoantes e vogais, não basta considerar apenas os sinais físico-acústicos ou ainda os movimentos articulatórios dos órgãos vocais, mas é necessário que saibamos quais sons são responsáveis por contrastes em uma dada língua (fonologia). Se tomarmos as consoantes fricativas como exemplo, [s] de selo e [z] de zelo diferem, em termos articulatórios, apenas pela vibração das pregas vocais ocasionada pela passagem do ar através da glote. Uma informação de natureza articulatória como essa é relevante para falantes do português, mas não para os do espanhol, porque o sistema linguístico espanhol não apresenta contraste entre as consoantes que constituem esse par. Apenas o [s] se faz presente no inventário da língua espanhola e, portanto, ainda que haja algum tipo de vibração durante a passagem do ar, ela não será levada em conta pelo falante, já que não é responsável por contrastes na classe das fricativas dessa língua.

Ao pronunciarmos uma palavra como pato, por exemplo, sabemos, por meio de uma atitude metalinguística e graças a nosso conhecimento linguístico, que são quatro os sons que a compõem ainda que, fisicamente, seja um contínuo aquilo que ouvimos, pois, na produção da fala, não articulamos cada som individualmente, um após o outro, mas sim como resultado da coarticulação de consoantes e vogais que se fundem para formar unidades maiores, tais como a sílaba.

Embora não sejam objeto específico de estudo dos alfabetizadores, as contribuições do campo da fonética ajudam o professor a compreender os aspectos sonoros da língua, bem como suas implicações no processo de  aquisição da escrita.


Verbetes associados: Consoantes, Fala, Fonema, Fonologia, Sistema Fonológico, Vogais


Referências bibliográficas:
CRYSTAL, D. Dicionário de Linguística e Fonética, Rio de Janeiro: Zahar, 1988.
FROMKIN, V.; RODMAN, R.; Introdução à Linguagem. Coimbra: Almedina, 1993.

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