Vogais
Autor: Ana Ruth Moresco Miranda,
Instituição: Universidade Federal de Pelotas / Grupo de Estudos sobre Aquisição da Linguagem Escrita-GEALE,
Vogais são os sons produzidos pelo aparelho fonador humano sem obstrução à passagem do ar que sai dos pulmões. As vogais podem ser definidas articulatoriamente com base em cinco parâmetros principais: altura da língua (baixa, média, alta); avanço da língua (mais ou menos posterior); posição dos lábios (arredondados ou não); posição do véu palatino ou palato mole (abaixado ou levantado, saída do ar pela cavidade nasal e oral, respectivamente); e posição das pregas vocais (glote aberta ou fechada, isto é, sem ou com vibração na passagem do ar). No caso das vogais portuguesas, há sempre vibração das pregas durante a produção, o que as caracteriza como sonoras.
No que diz respeito à fonologia, o sistema vocálico do português apresenta características peculiares. São sete os fonemas vocálicos na língua que, com base no parâmetro da altura, podem ser assim distribuídos: uma vogal baixa, /a/, como em casa; quatro vogais médias, sendo duas média-baixas /ɛ, ɔ/, como em bela e bola, e duas média-altas /e, o/, como em dedo e doce; e duas vogais altas, como em fila e fumo. A peculiaridade do sistema vocálico fica por conta da perda de distintividade dos fonemas quando estão em posição não tônica, o que resulta da diminuição de contrastes. As formas derivadas de palavras como bela e bola sofrem mudanças em relação à qualidade da vogal média que passará de média-baixa para média-alta, como exemplificam as palavras beleza e bolita. A neutralização é um fenômeno que elimina o contraste existente entre esses fonemas na posição átona e também diante de consoantes nasais - observe-se que não temos na língua palavras com vogal média-baixa antes de consoante nasal, temos pente mas não “pɛnte”. Essa neutralização é responsável pela possibilidade de variação nos distintos dialetos brasileiros, a partir da qual ouvimos pronúncias diferentes para um mesmo fonema vocálico. Pode-se dizer, por exemplo, ‘b[ɛ]leza’ na Bahia e ‘b[e]leza’ no Rio Grande do Sul; ‘quent[e]’ em Cruz Alta e ‘quent[i]’ em Porto Alegre. É também em consequência da neutralização que fenômenos variáveis tais como a Harmonia Vocálica (HV) e o Alçamento podem ser observados, o que resulta nas alternâncias entre [e~i] e [o~u], em produções de palavras como “minino” e “curuja”, por HV, e “buneca” e “sinhora”, por Alçamento.
Para a representação ortográfica dos sete fonemas que constituem o sistema vocálico do português e das variadas formas fonéticas observadas na língua, o sistema dispõe de cinco grafemas (“a”, “e”, “i”, “o”, “u”), mais os acentos agudo e circunflexo e o til, que servem para marcar a nasalidade das vogais. A relação letra/som/fonema não é estável em razão da gama de variações observada nos distintos dialetos. No que tange à relação entre a forma fonológica e a forma ortográfica das vogais, é possível observar um alto grau de isomorfismo; a exceção fica por conta dos grafemas vocálicos “e” e “o” que na fonologia se desdobram em /e/-/ɛ/ e /o/-/ɔ/.
Verbetes associados: Consoantes, Fonema, Fonética, Fonologia, Grafema, Ortografia
Referências bibliográficas:
CÂMARA JR., J. M. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1995.