Linguagem
Autor: Marcos Bagno,
Instituição: Universidade de Brasília-UnB,
O termo linguagem tem muitos significados e sentidos, mas vamos nos deter aqui em duas de suas definições, as mais importantes. A primeira é: faculdade cognitiva exclusiva da espécie humana que permite a cada indivíduo representar e expressar simbolicamente sua experiência de vida, assim como adquirir, processar, produzir e transmitir conhecimento. Nós somos seres muito particulares, porque temos precisamente essa capacidade admirável de significar, isto é, de produzir sentido por meio de símbolos, sinais, signos, ícones etc. Nenhum gesto humano é neutro, ingênuo, vazio de sentido: muito pelo contrário, ele é sempre carregado de sentido, nos mais variados graus, e cabe justamente à nossa capacidade de linguagem interpretar o sentido implicado em cada manifestação dos outros membros da nossa espécie.
A segunda definição de linguagem é decorrente da primeira: todo e qualquer sistema de signos empregados pelos seres humanos na produção de sentido, isto é, para expressar sua faculdade de representação da experiência e do conhecimento. É dessa segunda acepção de linguagem que provém uma distinção fundamental: a de linguagem verbal e linguagem não verbal. A linguagem verbal é aquela que se expressa por meio do verbo (termo de origem latina que significa “palavra”), ou seja, da língua, que é, de longe, o sistema de signos mais completo, complexo, flexível e adaptável de todos: não por acaso, é de língua que deriva a palavra linguagem, pois toda linguagem é sempre uma “imitação da língua”, uma tentativa de produção de sentido tão eficiente quanto a que se realiza linguisticamente.
A linguagem verbal pode ser oral, escrita ou gestual (língua dos surdos). A linguagem não verbal é a que se vale de outros signos, não linguísticos, signos que podem ser dos mais diversos e diferentes tipos: cores, sons, figuras, bandeiras, fumaça, ícones etc. É essa riqueza de possibilidades de representação e expressão que nos permite falar de linguagem musical, linguagem cinematográfica, linguagem teatral, linguagem corporal, linguagem da dança, da pintura, da escultura, da arquitetura, da fotografia, incluindo as linguagens secretas, que exigem o domínio de códigos reservados a poucos iniciados.
Existem também as linguagens artificiais, isto é, sistemas de comunicação elaborados conscientemente para permitir o desenvolvimento de domínios específicos de saber. São linguagens artificiais, por exemplo, as utilizadas na matemática, na lógica ou na computação. O estudo dos múltiplos sistemas de linguagem verbal e não verbal é tarefa da semiótica (ou da semiologia, conforme a corrente teórica), que também se interessa pelas transposições de um sistema para outro (por exemplo, da fala para a escrita, do romance para o cinema, da música para a dança).
Verbetes associados: Interação verbal, Língua, Signo linguístico, Textos multimodais
Referências bibliográficas:
TRASK, R. L. Dicionário de linguagem e linguística. São Paulo: Contexto, 2004.