Nasalidade
Autor: Heloísa Rocha de Alkimim,
Instituição: Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,
O termo nasal é usado na classificação fonética dos sons da fala. Refere-se ao modo de articulação dos sons quando o palato mole se abaixa permitindo que o ar passe, de maneira auditiva, através do nariz. Qualquer som pode ser nasal, seja ele consonantal ou vocálico. A nasalidade consonantal, na nossa língua, se manifesta no /m/ (lama, mato); no /n/(fino, nulo); no /ɲ/, representado pelo dígrafo “nh” (banho). Em contrapartida, todos os sons vocálicos podem se manifestar com o traço nasal. Há controvérsias teóricas a respeito das vogais que se apresentam com sons nasais. Uma vertente considera que são intrinsecamente nasais, outra analisa como sons orais que recebem o traço nasal. Neste texto, são chamadas de vogais nasais as que demandam seu registro seguido das letras consoantes nasais na mesma sílaba, formando com elas um dígrafo (cinto; sempre), e as que são registradas com til (fã). São consideradas, aqui, como vogais nasalizadas as que assimilam a nasalidade da consoante nasal presente no início da sílaba seguinte (fome, cana). O fenômeno de assimilar a nasalidade do ambiente fonético sofre influências, entre outras, tanto de fatores morfológicos quanto de fatores sociais. Por exemplo: na palavra “caminha” (substantivo, diminutivo de cama), o primeiro “a” é nasalizado, mas em “caminha” (verbo caminhar), o primeiro “a” é oral. No Sudeste do Brasil não se costuma nasalizar o primeiro “a” da palavra “canoa”, mas no Nordeste, sim.
Em certos casos, a nasalidade vocálica do português permite oposição com sons orais, promovendo diferenças de significado: lã/lá; canto/cato; mundo/mudo; minto/mito; ambas/abas; tumba/tuba; limpo/lipo. Essas duplas são chamadas de “pares mínimos” (têm praticamente os mesmos segmentos fonéticos, sendo a única diferença o traço oral ou o nasal); ressalte-se que nem toda palavra com vogal nasal tem seu par mínimo. Em um par mínimo, a sílaba tônica também pode se alterar: manhã/manha. Perceber essas diferenças pode ajudar na aprendizagem do registro da nasalidade vocálica.
Essa complexidade relativa aos sons vocálicos nasais e seus registros traz dificuldades ao aprendiz da língua escrita: ora tem de empregar “m”, ora “n”, ora til e ora nada. A abordagem ao tratamento ortográfico para a nasalidade deve partir da percepção da diferença entre sons orais e sons nasais. Posicionar os dedos indicador e polegar sobre o nariz ao pronunciar palavras com esses sons é um caminho recomendável para perceber a diferença; outra estratégia, complementar, é mostrar pares mínimos, mesmo oralmente, abrangendo também a questão da tonicidade. A regra “m antes de p e b, e n antes de outras letras” pode ajudar, mas não garante, por si só, o domínio do registro de nasalidade. Também é importante que os aprendizes reconheçam o valor simbólico das letras, tenham noção de sílaba e possam reconhecer que as letras que marcam a nasalidade têm seu próprio som quando estão no início de sílabas: nado/ando; neto/sento; mala/tampa; mola/lombo.
Verbetes associados: Consoantes, Fonética, Fonologia, Ortografia, Vogais
Referências bibliográficas:
CALLOU, D.; LEITE, Y. Iniciação à fonética e à fonologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
CRISTÓFARO-SILVA, T. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. São Paulo: Contexto, 1999.