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Poesia infantil

Autor: Maria Zélia Versiani Machado,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

Poesia e infância se confundem. No famoso texto “A Educação do ser poético”, Drummond pergunta ao leitor: Por que motivo as crianças, de modo geral, são poetas e, com o tempo, deixam de sê-lo? Em uma das passagens do ‘clássico’ “Homo Ludens, Huizinga coloca lado a lado o poeta e a criança. Para ele, o adulto precisaria de uma espécie de capa mágica, com a qual resgataria a sua alma de criança, para compreender a poesia. Por meio do jogo com as palavras, segundo ele, a linguagem poética se manifesta, transgredindo modelos de linguagem ditados pela vida cotidiana.

            As brincadeiras infantis mostram o gosto especial pelos ritmos, pela musicalidade, pelas repetições, pelas aliterações – repetição de sons consonantais  idênticos ou semelhantes nos versos –, pelas assonâncias – repetição de sons vocálicos nos versos –, pelas onomatopeias – figura de linguagem que busca reproduzir ou imitar os sons daquilo que representa. Esses recursos lúdicos e expressivos, organizados em versos, se materializam em gêneros como quadrinhas – estrofes de quatro versos, geralmente de sete sílabas, fáceis de decorar –, acalantos – cantigas de ninar –, lengalengas – cantilenas com repetições de palavras e expressões que favorecem a memorização –, cantigas de roda, parlendas – fórmulas recitadas em brincadeiras de crianças –, trava-línguas – brincadeiras com palavras de difícil articulação que exploram as rimas –, adivinhas – charadas, conhecidas popularmente como “o que é, o que é”, que propõem um desafio de adivinhação –, e outras manifestações da linguagem, que evidenciam a aproximação entre o espírito lúdico da criança e os elementos poéticos.

 A poesia, para qualquer idade, subverte esquemas linguísticos habituais e amplia as possibilidades de uso da linguagem. Com a poesia infantil, não seria diferente. Maria da Glória Bordini, em importante estudo sobre a poesia infantil, analisa essa ampliação ou alargamento de mundo que a poesia propicia à criança, quando diz que “em contato com o texto poético, a criança é tomada por vivências que a distanciam de seu ambiente familiar, linguístico e social. Todavia, a configuração eminentemente ordenadora dos estímulos do mundo poético (os ritmos, a criação de vínculos entre objetos isolados) garante que esse deslocamento se processe num clima de segurança, em que o incomum produz prazer e não temor”.

            A poesia infantil na escola pode ser explorada tanto na sua modalidade oral como na escrita, e também nos trânsitos que existem entre elas. Hoje, muitos poetas que escrevem para crianças buscam na tradição oral a sua fonte de inspiração. Considera-se ainda o fato de que, no conjunto da produção literária escrita para crianças, a poesia – ou seja, o texto organizado em forma de versos rimados ou não – é muito usada também para contar histórias como as dos contos maravilhosos, dos contos populares, entre outras narrativas.


Verbetes associados: Bebetecas (bibliotecas para a primeira infância), Experiência estética literária, Gêneros literários para crianças, Leitura literária, Letramento Literário, Literatura infantil, Literatura oral, Modos de ler na infância


Referências bibliográficas:
ANDRADE, C. D. de. A educação do ser poético. São Paulo: Arte e Educação, 1974
BORDINI, M. G. Poesia Infantil. São Paulo: Ática, 1986. (Série Princípios).
HUIZINGA, J. Homo Ludens: O jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 1980.
MEIRELES, C. Problemas da Literatura Infantil. São Paulo: Summus, 1979.
SORRENTI, N. A poesia vai à escola – reflexões, comentários e dicas de atividades. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

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