Reconto
Autor: Alessandra Latalisa de Sá,
Instituição: Universidade FUMEC / Escola Balão Vermelho-Belo Horizonte,
Reconto é a reconstrução oral de um texto já existente. O principal procedimento é a imitação a partir de um texto modelo: um conto clássico, anúncio, texto expositivo, uma notícia, entre outros. Tal procedimento implica recontar parecido com o que estava no livro, no jornal, na revista, no encarte, ou como se fosse o autor. O propósito é a adesão ao texto selecionado, respeitando seu tipo de linguagem, as marcas do gênero, o tema e a sua estrutura.
A capacidade de recontar é influenciada pelas experiências letradas das pessoas, seu contato com livros e leitores, sua exposição à escrita e à atividade de compor textos – tanto orais quanto escritos. Recontar não pressupõe que a pessoa esteja alfabetizada, pois o acesso ao texto pode ocorrer pela leitura em voz alta dos adultos. Durante o reconto, a análise do texto modelo acontece sobre seu conteúdo e estrutura – como, no caso de um conto clássico, a organização temporal e causal, a complexidade dos episódios, as marcas típicas, as formas fixas e as restrições do gênero textual.
Na reconstrução do texto, o que se busca é a apropriação do texto modelo, com pouca flexibilidade para criações e modificações que se distanciem dele. No caso da sala de aula, o professor marcará, com suas intervenções, as relações entre linguagem oral e linguagem escrita, distinguindo entre o que faz parte do modelo, as transgressões e os comentários à parte.
Com crianças da Educação Infantil ou do Ciclo Inicial de Alfabetização, o clima didático que se pretende é o de brincar com a linguagem escrita, o fazer de conta que é o autor da história.
O trabalho pedagógico de um reconto de um conto clássico, por exemplo, pode ser desenvolvido da seguinte maneira: selecionar o conto, uma história escolhida pelo adulto ou pelas crianças, ambos justificando a escolha. Explorar o livro: capa, páginas, texto, letras, ilustração. Identificar conhecimentos prévios: explicitar o que conhecem, criar hipóteses, fazer antecipações (predições) sobre o que pode ou deve acontecer na história. Ler o conto para as crianças: fielmente, sem omissões ou adaptações, criando “clima de encantamento”, a partir de entonação, pausas, comentários, perguntas. Explorar alguns aspectos: nomes, modos de referência e descrição dos personagens, palavras interessantes, expressões “diferentes”, repetições. Elaborar um roteiro do texto: as crianças identificam as partes importantes da história e o professor registra em um cartaz – é a primeira tentativa de reconstrução oral. Brincar de encenar: o professor reconta a história, a partir do roteiro, e as crianças assumem os personagens, interferindo na narração, completando e sugerindo mudanças no texto. Recontar: a partir do roteiro, as crianças recontam a história, coletivamente, com o desafio de fazê-lo “como fazem os bons autores”.
Verbetes associados: Gêneros e tipos textuais, Leitura em voz alta, Letramento, Linguagem, Produção de textos escritos, Produção de textos orais, Progressão temática , Reescrita, Retextualização, Texto
Referências bibliográficas:
CURTO, L. M.; MORILLO, M. M.; TEIXIDÓ, M. M. Escrever e ler: como as crianças aprendem e como o professor pode ensiná-las a escrever e a ler. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: Atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001.
NEMIROVSKY, M. O ensino da linguagem escrita. Porto Alegre: Artmed, 2002.
TEBEROSKY, A. TOLCHINSKY, L. Além da alfabetização. São Paulo: Ática, 1996.