Escrita coletiva na alfabetização
Autor: Kely Cristina Nogueira Souto, Maria José Francisco de Souza,
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Centro Pedagógico Escola de Educação Básica e Profissional da UFMG / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE, Universidade do Estado de Minas Gerais-UEMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,
A escrita coletiva é uma estratégia que pode ser utilizada com objetivos distintos em uma sala de aula. Ela envolve grupos de alunos ou toda a turma e o professor que, necessariamente, atua como mediador no processo de elaboração textual. A produção coletiva de textos pode ser desenvolvida com crianças que ainda não estão alfabetizadas e, também, com crianças em processo de consolidação das habilidades de ler e escrever, contribuindo significativamente para o aprendizado da escrita.
A produção coletiva com crianças ainda não alfabetizadas favorece a compreensão de que um texto escrito necessariamente deve atender a uma determinada estrutura. Assim, é importante que todos tenham clareza sobre o quê, para quem, com que finalidade e como se vai escrever. A atividade é desafiadora, pois a construção coletiva implica ouvir o outro, suas ideias e opiniões, e estar atento ao processo de elaboração que é conduzido pelo adulto professor. A cooperação e a colaboração do grupo, portanto, é fundamental uma vez que ela envolve tanto apresentar e defender uma ideia quanto alterar, questionar, rejeitar, deixar em segundo plano ou excluir a ideia apresentada. Ao professor cabe mostrar como o processo de construção da escrita exige uma organização coerente das ideias para que os outros compreendam o que se pretende comunicar. A produção de uma narrativa, por exemplo, envolve determinada estrutura, sequência lógica dos fatos, coerência e coesão textuais. Se o objetivo da escrita for a elaboração de um cartão, outros aspectos estarão em evidência.
A escrita coletiva com crianças já alfabetizadas e que estão inseridas em práticas letradas em que o texto está presente envolve aspectos relacionados à macro e à microestrutura do texto, como o emprego de recursos coesivos específicos que, por exemplo, eliminem ou minimizem as repetições e que garantam a continuidade e a progressão textual. Uma vez que as crianças já estão imersas em práticas em que o texto escrito é objeto de análise (tanto na leitura quanto na produção de textos), a escrita coletiva configura-se como uma importante estratégia para se trabalharem aspectos como a ortografia, a extensão dos períodos, a pontuação, entre outros.
As crianças apresentam diferentes condições ao participarem do processo de construção coletiva de um texto, dependendo da etapa de escolarização em que se encontram. Nos anos iniciais, no ciclo da alfabetização, a participação das crianças inicialmente, aos 6 anos, por exemplo, está voltada para o conjunto das ideias. Assim um grande volume de ideias emerge no momento da produção. À medida que avançam para os 8/9 anos, elas já começam a compreender que as ideias necessariamente precisam estar vinculadas a aspectos formais que garantem a organização do texto. No processo de construção coletiva de textos escritos, o professor sinaliza e estabelece uma interlocução garantindo novas aprendizagens. Ele é mais que um escriba das ideias do grupo.
Verbetes associados: Ciclo de alfabetização, Coerência textual, Coesão textual, Leitura , Ortografia, Pontuação, Produção de textos
Referências bibliográficas:
FERREIRO, E. O ingresso na escrita e nas culturas do escrito: seleção de textos de pesquisa. Cotez, 2013.
JOLIBERT, J. et al. Formando crianças produtoras de textos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
TEBEROSKY, A. Psicopedagogia e linguagem escrita. Campinas: UNICAMP, 1990.