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Morfologia

Autor: Luiz Carlos de Assis Rocha,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Letras,

Morfologia é a parte da gramática que estuda a estrutura, a formação e a flexão das palavras. O estudo da estrutura compreende o reconhecimento e a descrição dos elementos constitutivos do vocábulo: raiz, radical, tema, vogal temática, prefixo, sufixo e desinência. O estudo da formação de palavras abrange os processos existentes na língua, de que se servem os falantes, para a criação de novos itens lexicais. Existem três processos em português: a derivação, a composição e a onomatopeia. A flexão se preocupa com a possibilidade que têm os vocábulos de apresentar – por meio de desinências (ou sufixos flexionais) – variações para expressar determinadas categorias gramaticais (gênero e número nos nomes e pessoa, número, tempo e modo nos verbos). Pode-se falar, portanto, em flexão nominal de gênero (masculino/feminino: garot-o/garot-a) e de número (singular/plural: colégio/ colégio-s) ou em flexão verbal de pessoa (1ª, 2ª e 3ª: canta-mos), de número (singular/plural: canta-s), de tempo (pretérito imperfeito: canta-va) e de modo (canta-rá: indicativo, canta-sse: subjuntivo). Em canta-va, canta-rá e canta-sse, as desinências acumulam as funções de tempo e modo.

As gramáticas tradicionais costumam incluir na morfologia a questão da classificação das palavras (substantivo, artigo, adjetivo, etc.). Na verdade, essa questão transcende o âmbito da morfologia, uma vez que nessa classificação são levados em consideração conceitos sintáticos e semânticos. A palavra pobre, por exemplo, será um adjetivo ou um substantivo de acordo com a sua função na frase. Em crianças pobres vieram até nós, será um adjetivo e em um pobre bateu à nossa porta, um substantivo. Em ele é o segundo aluno da sala e ele agiu segundo a vontade do avô, considerando o item lexical segundo, além do aspecto morfológico (o primeiro vocábulo pode ser flexionado, mas o segundo não), há diferenças sintáticas (por causa da função que exercem na frase) e diferenças semânticas (as duas palavras têm sentidos diferentes). A classificação das palavras é, portanto, um estudo abrangente, que extrapola o campo específico da morfologia e se serve também da sintaxe e da semântica.

Outro problema relevante nos estudos morfológicos é a questão do grau (cas-inha, frang-ote, chapel-ão, boc-arra, inteligent-íssimo, paup-érrimo, ced-inho, etc.). As gramáticas tradicionais o colocam como uma das flexões do nome, mas modernos estudos nessa área consideram-no como derivação, uma vez que os sufixos empregados devem ser considerados como derivacionais e não como flexionais. Sufixos derivacionais são usados para formar novas palavras, como pian-ista, cheir-oso, ofereci-mento. Sufixos flexionais são usados para indicar variações da mesma palavra, como garot-o/garot-a/garot-os/garot-as. Já em itens como cas-inha, frang-ote, chapel-ão, etc., por exemplo, estamos diante de novas palavras, pois os sufixos são tidos como derivacionais.

No ensino da língua portuguesa, a morfologia ocupa um lugar especial, porque, mesmo respeitando a modalidade linguística oral que o aluno traz de casa, a escola precisa levá-lo a dominar a norma padrão, para que ele possa ampliar suas possibilidades de uso da língua, na fala e na escrita, em instâncias formais. Necessariamente o aluno irá confrontar-se com a modalidade escrita, que incluirá convenções e formas linguísticas representativas de novos contextos de uso. Um exemplo é o trabalho com a flexão das palavras. O professor poderá contribuir para essa confrontação, levando o aluno a perceber as diferenças estruturais e funcionais presentes, por exemplo, em portões, em vez de os portão, os professores, em vez de os professor, os chapéus em vez de os chapéis, e assim por diante. Do mesmo modo, o professor deve alertar para a conjugação verbal esperada em situações públicas e formais, a fim de que conheçam e usem formas como: por exemplo, se ele vier à minha casa; espero que você seja meu amigo. A formação de palavras também deve ocupar um lugar especial na formação linguística do aluno, não só para reconhecer vocábulos já existentes como também para criar novos itens lexicais.


Verbetes associados: Formação de palavras, Gramática, Léxico, Língua, Palavra, Variação línguística


Referências bibliográficas:
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo: Nacional, 2009.
CUNHA.C.; CINTRA. L. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.
HENRIQUES, C. C. Morfologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
ROCHA, L. C. A. Estruturas morfológicas do português. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008.

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