Gramática
Autor: Luiz Carlos Travaglia,
Instituição: Universidade Federal de Uberlândia-UFU / Instituto de Letras e Linguística-ILEEL,
A gramática é o próprio mecanismo da língua que está em nossa mente e nos permite usar a língua tanto para dizer o que queremos como para compreender o que os outros nos dizem. Portanto, é o nosso conhecimento linguístico internalizado, que usamos “automaticamente”, tanto quando ouvimos e falamos, como quando lemos e escrevemos, após aprendermos a modalidade escrita da língua. Esse mecanismo da língua é chamado de gramática internalizada. Os estudos linguísticos buscam dizer como é esse mecanismo da língua, que unidades, regras e princípios o constituem e lhe permitem funcionar na comunicação. Dos esforços dos linguistas resulta o que é chamado de gramática descritiva, ou teoria linguística, ou teoria gramatical. Finalmente, é preciso lembrar que nossa sociedade cria regras sociais para uso da língua e suas variedades. Trata-se da gramática normativa, que hoje não se limita a dizer como é a norma culta e recomendar que somente ela seja usada, mas nos ensina quando podemos e/ou devemos usar cada variedade da língua com seus recursos.
A gramática descritiva geralmente é dividida em partes, conforme o elemento da língua que está sendo estudado. Assim temos: a) a fonologia e a fonética, que estudam os fonemas e sons da língua. A correspondência dos fonemas e sons com os grafemas e letras é importante no processo de alfabetização; b) a morfologia, que estuda como as palavras são constituídas por prefixos, sufixos e lexemas [infelizmente = in (prefixo) + feliz (lexema) + mente (sufixo)] e como elas se flexionam, isto é, mudam de forma para indicar as categorias de gênero, número, tempo, modo, pessoa, aspecto; c) a sintaxe, que estuda como as palavras se combinam para formar orações, frases, períodos, tratando ainda de questões como a concordância e a regência. Além dessas partes, tem-se também a semântica, que estuda questões de significação, como, por exemplo, a existência de sinônimos e antônimos.
No ensino, a gramática teórica será pouco usada como objeto de ensino, principalmente na educação infantil e nas primeiras séries do Ensino Fundamental, mas é importante que o professor a conheça bem, para selecionar e organizar o que vai ensinar. Do ponto de vista do ensino, entende-se que o objetivo prioritário é desenvolver a competência comunicativa dos alunos, levando-os a usar um número crescente de recursos da língua, sejam unidades (fonemas, prefixos, sufixos, palavras, orações, frases), categorias (gênero, número, modo, tempo, pessoa), construções (coordenação, subordinação, regência, concordância, repetição, colocação de palavras na frase) ou recursos suprassegmentais (entonação, velocidade de fala, alongamento de vogais), entre outros, para a produção de efeitos de sentido desejados. Por isso a gramática deve ser vista como o estudo e o trabalho com a variedade de recursos linguísticos colocados à disposição do produtor e receptor de textos para a construção do sentido desejado na interação comunicativa. Desse modo, o ensino de gramática tratará os recursos linguísticos como pistas e instruções de sentido: o que cada recurso pode significar nos textos e de que recursos dispomos para expressar determinados sentidos. Portanto, pedagogicamente, sugerimos que se considere a gramática como sendo o estudo das condições linguísticas da significação, que estão relacionadas a elementos como para quem, como, por quê e quando as expressões linguísticas significam o que significam, por causa da influência de fatores sociais, históricos, culturais e ideológicos (no sentido lato de como vemos os elementos do mundo, ou seja, nossa visão de mundo, inclusive nossas crenças).
Verbetes associados: Competência discursiva, Competência linguística, Fonética, Fonologia, Língua, Morfologia, Semântica, Sintaxe, Variação línguística
Referências bibliográficas:
TRAVAGLIA, L. C.. Gramática: ensino plural. São Paulo: Cortez, 2011.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação - uma proposta para o ensino de gramática. São Paulo: Cortez, 2009.