Processo Fonológico
Autor: Raquel Márcia Fontes Martins,
Instituição: Universidade Federal de Lavras-UFLA / Departamento de Ciências Humanas,
Processo fonológico é a expressão de um fenômeno fonológico em forma de regra. Dito de outra forma, um processo fonológico visa a descrever uma regra relativa a um fenômeno sonoro que ocorre na língua.
No português, um exemplo de regra fonológica é a que descreve um fenômeno que ocorre com o fonema /t/ em vários dialetos. Esse fonema, representado na mente, manifesta-se na fala, concretamente, pelos sons ou fones [t] e [tʃ]. Assim, uma palavra como tia é pronunciada com o fone [tʃ]: [tʃia] (“tchia”). Já palavras como tua, teto, telha, tora, toldo, tato, trava e atlas são pronunciadas como o fone [t] e não com o fone [tʃ]. A regra fonológica que descreve essa variação na pronúncia do fonema /t/ é a seguinte: o fonema /t/ torna-se [tʃ] diante do som vocálico [i], seja na sua forma oral (por exemplo, na palavra tiro [tʃiro]), seja na sua forma nasal (por exemplo, na palavra tinta [tʃĩta]. Por outro lado, o fonema /t/ se manifesta como o fone [t] nos demais ambientes, ou seja, diante das demais vogais e das consoantes “r” e “l” em encontro consonantal, o que ocorre nas citadas palavras: tua, teto, telha, tora, toldo, tato, trava e atlas. Assim, acaba-se de descrever um processo fonológico que é formalizado, de modo sintético, desta forma:
/t/ à [tʃ] / – [i] , onde se lê que o fonema /t/ torna-se [tʃ] diante de [i] no dialeto mineiro, em palavras como tia ([tʃia],“tchia”), tiro ([tʃiro], “tchiro”) e tinta ([tʃĩta], “tchĩta”).
Conhecer fenômenos fonológicos que podem ser formalizados em processos fonológicos é importante para o professor alfabetizador. Isso porque os aprendizes tendem a manifestar esses fenômenos na escrita. Por exemplo, um alfabetizando de Minas Gerais que escreve “mininu”, ao invés de menino, demonstra se pautar em sua fala, em seu dialeto, para escrever dessa forma. Trata-se de um processo fonológico que recai sobre sílabas átonas, em que a vogal “e” se torna “i”, e a vogal “o” se torna “u”. Esse é um dado importante para o professor alfabetizador estar atento e intervir de modo adequado, já que há um processo fonológico que faz parte da língua e que, portanto, não é aleatório. Por outro lado, o aprendiz precisará compreender que escrever não é fazer uma transcrição fonética da fala, o que significa assimilar que a ortografia muitas vezes se afasta da forma como se fala.
Verbetes associados: Fala, Fone, Fonema, Fonologia, Sílaba, Transcrição fonética
Referências bibliográficas:
ARAÚJO, G. A. de (Org.). O acento em português – abordagens fonológicas. São Paulo: Parábola, 2007.
FERREIRA NETTO, W. Introdução à fonologia da língua portuguesa. São Paulo: Hedra, 2001.
SIMÕES, D. Considerações sobre a fala e a escrita. Fonologia em nova chave. São Paulo: Parábola, 2006.