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Progressão continuada

Autor: Egon de Oliveira Rangel,

Instituição: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP,

Podemos definir a progressão continuada como uma forma de monitoramento do ensino-aprendizagem escolar que evita fixar um momento preciso para a avaliação e a promoção do aluno. Dessa maneira, a escola se vê desafiada a pensar a aferição e a progressão da aprendizagem – e, portanto, toda a organização do ensino – por parâmetros diferentes dos tradicionais.

Em boa medida, esse princípio pedagógico procura responder a duas questões distintas. A primeira diz respeito à necessidade de articular a organização escolar do ensino com os resultados das pesquisas relativas aos tempos, ritmos e processos de subjetivação próprios do aprendiz. Nesse sentido, a progressão continuada é uma tentativa, de um lado, de liberar a escola dos ‘anos’ e ‘bimestres’, que só se justificam do ponto de vista da organização operacional da docência; e, de outro, de estimulá-la a estabelecer unidades como os ‘ciclos’, baseadas nos processos de aprendizagem implicados a cada passo e nas diferenças individuais de ritmo que lhes são característicos.

A segunda questão é de natureza política e ética. E deriva, em boa medida, da forte expansão do ensino público no Brasil, rumo à pretendida universalização. Esse processo trouxe para a educação formal um alunado vindo de camadas populares, cuja cultura e cuja linguagem eram desconhecidas e, muitas vezes, desprezadas pela escola. O choque cultural resultante levou a escola pública a níveis de repetência crescentes, tornando a Educação Básica um ‘funil’ problemático. Pior ainda: a ‘repetência continuada’ não garantia a aprendizagem do aluno retido, provocando sua ‘desistência’. Assim, este era o efeito perverso – inaceitável, numa democracia – dessa política de expansão do ensino formal dissociada de medidas que levem na devida conta os desafios políticos, culturais e pedagógicos correspondentes.

No entanto, para que as promessas pedagógicas e éticas da progressão continuada se cumpram, é preciso que os desafios advindos da expansão do ensino público, como a gestão de classes heterogêneas e a construção de instrumentos apropriados de avaliação e promoção, sejam enfrentados pelas autoridades, pelos docentes e pelos técnicos da máquina administrativa – impedindo, assim, que ela seja entendida como pura e simples promoção automática.

Por isso mesmo, convém lembrar que a promoção automática e a progressão continuada são, muitas vezes, indevidamente tratadas como sinônimas. Na verdade, apesar de ambas as expressões remeterem à mesma decisão de elaborar formas de monitoramento da aprendizagem escolar adequadas às características do aprendiz e ao seu perfil sociocultural, as perspectivas em foco são distintas. Num contexto escolar que tenha optado pela progressão continuada, a promoção automática costuma designar apenas a dispensa de avaliações formais periódicas para promover o aluno a patamares superiores – em geral, dentro de um mesmo ciclo de ensino-aprendizagem, como o da alfabetização.


Verbetes associados: Avaliação Diagnóstica, Avaliação Externa, Ciclo de alfabetização


Referências bibliográficas:
FRANCO, C. Avaliação, ciclos e promoção na educação. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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