Magda Soares

Magda Soares foi uma das intelectuais mais influentes da educação brasileira, com uma trajetória marcada pelo compromisso com a alfabetização, a leitura e a escrita. Entre 1959 e 1998, sua produção intelectual redefiniu o entendimento sobre o que significa alfabetizar, ao propor uma abordagem que integra aspectos linguísticos, pedagógicos, psicológicos e sociais. Para Magda, a alfabetização não se resume ao domínio técnico do sistema alfabético, mas deve manter conexão profunda com as práticas sociais de uso da linguagem escrita, perspectiva que ela consolidou com o conceito de letramento.

Magda nasceu em Belo Horizonte no dia 7 de setembro de 1932. Graduou-se em Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o bacharelado concluído em 1953 e a licenciatura em 1954. No mesmo ano em que finalizou a graduação, iniciou a carreira docente como professora no curso de francês para o vestibular da UFMG. Também atuou como professora de português no curso científico e no curso de formação de professoras primárias do Colégio Izabela Hendrix, instituição protestante metodista onde cursou o ensino primário e secundário, e na qual permaneceu como docente até 1959.

Durante a década de 1960, a educadora acumulou atividades como professora em diversas instituições de ensino de Belo Horizonte, entre elas o Colégio Estadual Central, o Instituto Brasileiro de Línguas e a Universidade Católica de Minas Gerais. Em 1962, obteve aprovação no concurso de Livre-docência na UFMG com a tese Estudo Dirigido, em que propôs uma metodologia inovadora de ensino inspirada nos princípios da Escola Nova.

Anos depois, em 1981, tornou-se Professora Titular da UFMG com o memorial Travessia: tentativa de um discurso da ideologia, texto que mais tarde foi publicado como livro sob o título Metamemória-memórias: travessia de uma educadora (1991). Na obra, Soares apresenta uma autoanálise crítica de sua formação e atuação profissional, destacando as ideologias que marcaram sua trajetória como docente e pesquisadora.

Na Faculdade de Educação da UFMG (FaE/UFMG), atuou como professora, pesquisadora e orientadora, e construiu uma bibliografia extensa, que pode ser consultada aqui. Magda também exerceu papel fundamental na formação de professores e pesquisadores. Sua orientação cuidadosa e comprometida formou uma rede sólida de educadores envolvidos com práticas e trabalhos transformadores, também organizados nesta tabela. Foi também na FaE que idealizou e estruturou o Ceale (Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita), que se tornou referência nacional na área ao promover pesquisas, produção de materiais e formação docente qualificada. Entre suas contribuições nesse espaço, destaca-se a criação do banco de dados Alfabetização no Brasil: Estado do Conhecimento, que sistematiza pesquisas sobre o tema e amplia o acesso à produção científica na área. 

Mesmo após a aposentadoria, em 2000, Magda manteve forte atuação prática e acadêmica, especialmente com o projeto Alfaletrar, desenvolvido em Lagoa Santa (MG). Esse projeto, baseado na articulação entre teoria e prática, ofereceu formação continuada a professores da rede pública e contribuiu de forma significativa para a melhoria dos indicadores educacionais do município, como o IDEB. Sua atuação nesse contexto reafirma sua crença de que a alfabetização deve servir à justiça social e à cidadania.

Magda Soares uniu, de forma rara, a excelência acadêmica à intervenção concreta nas escolas e nas políticas públicas. Seu legado abrange não apenas a elaboração de conceitos fundamentais como alfabetização e letramento, mas também a consolidação de estruturas institucionais duradouras, a formação de gerações de educadores e a transformação efetiva de práticas pedagógicas. Sua trajetória revela uma intelectual comprometida com a educação pública de qualidade, com a formação crítica de professores e com a construção de uma sociedade mais justa por meio do acesso pleno à linguagem escrita. Magda Soares faleceu em 1º de janeiro de 2023. A professora teve cinco filhos: Márcia, Lúcia, Magda Lúcia, Marco Antonio e Paulo Sergio, quatro netos e dois bisnetos.

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