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Cópia

Autor: Anne-Marie Chartier,

Instituição: Laboratoire de Recherche Historique Rhône-Alpes / École Normale Supérieure de Lyon. França,

Como exercício escolar, a cópia é uma atividade clássica que pode ser relacionada a um ato mecânico e repetitivo de escrita que mantém os alunos ocupados, sem uma compreensão sobre o que copiam, ou pode ser um ato inteligente do aprendiz. Na cópia, o conteúdo do texto é dado e o aprendiz pode se concentrar nos problemas postos pela escrita (a grafia). Pode-se evidentemente fazer os alunos copiarem textos compostos em classe: um relato de experiência, um resumo de história ou uma história produzida coletivamente. 

         As atividades de cópia foram muito utilizadas nas escolas primárias e secundárias até as décadas de 1960 e 1970, quando passaram a ser consideradas um trabalho “mecânico”, “passivo”. Essa percepção já se estendia também à leitura, por muito tempo considerada apenas um trabalho de recepção passiva.

         A crítica à cópia decorre do fato de se gastar muito tempo com ela, com resultados pouco produtivos. A partir do momento em que as fotocópias passaram a existir, facilitando a reprodução dos textos, a cópia das lições pelos alunos tornou-se menos necessária. Hoje, o professor pode economizar tempo para uma discussão ou para uma leitura, dando aos alunos textos já impressos para colar nos cadernos. Essa escolha, contudo, tem tido consequências negativas na capacidade gráfica dos alunos. Professores também constatam que as crianças no primeiro ano escolar são capazes de copiar textos sem, com isso, aprender a ortografia ou as regras de sintaxe: elas copiam letra a letra, ou sílaba por sílaba, sem aprender a palavra inteira e sem compreender o sentido do que leem.

            Para fazer da cópia uma situação de aprendizagem, é necessário que o professor ensine os alunos a copiar. Não basta colocá-los diante de um texto a ser reproduzido para que, de forma mágica, a aprendizagem aconteça. Esta será possível, entretanto, se o professor ensinar aos alunos “estratégias de cópia” (como memorizar partes de frases e verificar, durante a leitura, as dificuldades ortográficas, entre outras). Copiar “de forma inteligente” é guardar um texto mentalmente e ditá-lo a si mesmo em etapas. Pode ser considerada uma das etapas de uma progressão que encaminha para a produção de textos. É uma ocasião importante para aprender a memorizar. Ao copiar um texto, o aluno, a uma só vez, adquire novos saberes (quando, por exemplo, copia um resumo de história ou de geografia); assimila as formas sintáticas e lexicais específicas da escrita (quando copia um texto literário, uma poesia); e internaliza a atenção à ortografia. A cópia, então, não é uma atividade banal e pode ajudar na aprendizagem das crianças, quando trabalhada de forma significativa e contextualizada.


Verbetes associados: Atividade didática, Caligrafia, Convenções da escrita, Ortografia, Reconto


Referências bibliográficas:
CHARTIER, A.-M. Ensinar a ler e escrever, entre teoria e prática. Disponível em: revistaescola.abril.com.br/pdf/texto-anne-marie-chartier.pdf‎. Acesso em: 08/05/2014.
CHARTIER, A.-M. Práticas de leitura e escrita. História e atualidade. Belo Horizonte: CEALE/Autêntica, 2007.
TEBEROSKY, A. Aprendendo a escrever: perspectivas psicológicas e implicações educacionais. São Paulo: Ática, 1994.

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