Dicionários – seu uso em alfabetização
Autor: Egon de Oliveira Rangel,
Instituição: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP,
Dicionários são, ao mesmo tempo, uma obra singular e um tipo único de livro. Como obra, seu objetivo é o de registrar e descrever o léxico de uma língua, na forma mais abrangente e adequada possível, do ponto de vista de um determinado público e dos usos que esse mesmo público faz da língua. Já como livro, trata-se de uma publicação – ou mesmo de um suporte – que, para bem cumprir essa função, desenvolveu ao longo dos anos padrões editoriais característicos: 1)organização em verbetes, compostos de uma entrada (a palavra a ser definida) e de um enunciado explicativo, ou seja, um conjunto de informações associadas à entrada, especialmente a definição de cada um de seus diferentes sentidos (acepções), assim como referências a verbetes relacionados; 2)ordem alfabética de apresentação dos verbetes; 3)diagramação da página, geralmente em colunas; 4)anexos e apêndices com informações sobre gramática, ortografia, coletivos, nomes pátrios etc.
Reconhecendo sua relevância para o ensino de leitura e produção de textos, assim como para a construção de conhecimentos linguísticos, o Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD) fornece às escolas públicas quatro tipos de dicionários escolares, cada um deles dirigido para um determinado nível de ensino da Educação Básica. Entre eles, os de Tipo 1, com aproximadamente 1.000 verbetes cada, foram pensados para adequar-se a demandas próprias do processo de alfabetização inicial, enquanto os de Tipo 2 (entre 3.000 e 15.000 verbetes) podem contribuir para neoleitores, em sua fase de consolidação dessa aprendizagem. Em ambos os casos, as definições são mais diretas e coloquiais, ao mesmo tempo em que o projeto gráfico-editorial aproxima esses dicionários dos livros de estórias e dos almanaques.
Destinados aos professores, manuais com orientações para o uso de tais acervos em sala de aula apresentam e sugerem práticas de letramento que visam a favorecer a tomada de consciência, pelo aluno, da realidade da palavra como unidade linguística. Podem, assim, facilitar a percepção: de sua demarcação gráfica; do valor das letras, em diferentes posições de sua estrutura; de suas sílabas e estruturas silábicas; das partes significativas que a compõem (formação de palavras); de sua ortografia; de suas possíveis acepções; etc.
Outras atividades também podem ser contempladas nesses manuais, fazendo desses dicionários peças-chave para que o léxico, uma noção bastante abstrata e de difícil apreensão, ganhe concretude. A começar pela percepção de campos semânticos (corpo humano, instrumentos musicais, insetos...), explorados, em muitos deles, por meio de quadros ilustrados inseridos em anexos. Com base nesses primeiros repertórios lexicais, o professor poderá criar outros, ajudando o aluno a enriquecer o seu vocabulário, assim como a desenvolver estratégias eficazes de seleção lexical, ou seja, de escolha da palavra certa na hora certa.
Essas mesmas práticas, aliadas a atividades específicas, permitirão que o aprendiz perceba o dicionário como um tipo de livro: uma obra de consulta, que não se lê de forma contínua, e sobre a qual o nosso olhar procura, na ordem alfabética, um verbete; e, no corpo dele, a(s) informação(ões) desejada(s), assinaladas por sinais gráficos apropriados.
Verbetes associados: Campo semântico, Formação de palavras, Letramento, Neoleitor, Ortografia, Léxico
Referências bibliográficas:
CARVALHO, O. L. S. & BAGNO, M. Dicionários escolares: políticas, formas e usos. São Paulo: Parábola, 2011.
KRIEGER, M. G. Dicionário em sala de aula: guia de estudos e exercícios. Rio de Janeiro: Lexikon, 2012.
RANGEL, E. O. Com direito à palavra: dicionários em sala de aula. Brasília: Ministério da Educação; Secretaria da Educação Básica, 2012.