Informação implícita no texto
Autor: Kátia Lomba Bräkling,
Instituição: Instituto Superior de Educação Vera Cruz-ISE – São Paulo / Pós-Graduação – Formação de professores em Alfabetização e Ensino de Língua Portuguesa,
Em um texto articulam-se informações de duas naturezas: explícitas e implícitas, sendo ambas fundamentais no processamento dos sentidos. Estes são determinados não apenas pelas informações explicitadas na sua linearidade, mas por aquelas que constituem o conhecimento de mundo dos interlocutores e que não foram citadas no texto.
Em outras palavras, podemos dizer que o implícito em um texto é tudo o que está presente nesse texto pela sua ausência – os subentendidos; é tudo o que não está dito, mas que também está significando.
Tomemos o enunciado a seguir:
(1) Amiga 1: Será que daria pra você trazer o meu CD amanhã?
(2) Amiga 2: Vai ter manifestação na Av. Paulista...!
(3) Amiga 1: Nossa! Amanhã? Então a gente se vê na quarta, tá bom?
(4) Amiga 2: Que pena, eu ia passar pra te pegar e a gente ir junto...
Apesar da aparente incoerência entre o que uma amiga diz para a outra, todos conseguimos compreender que:
a) a Amiga 1 parece ter emprestado um CD para a Amiga 2;
b) a Amiga 2 não vai levar o CD porque vai à manifestação (inferência autorizada na linha (4);
c) a Amiga 1 não vai à manifestação (inferência possível na linha 3 e autorizada na (4);
d) a Amiga 1 sabia que a 2 iria à manifestação, pois se surpreendeu apenas com a data;
e) a Amiga 1 ficou sabendo da data apenas com a Amiga 2;
f) a Amiga 2 irá de carro e daria uma carona para a Amiga 1;
g) a Amiga 2 pensava que a Amiga 1 iria à manifestação (decepcionou-se quando ela disse que não iria);
h) as amigas vão ficar pelo menos um dia sem se ver;
i) a manifestação pode ser na cidade de São Paulo, considerando o nome da avenida, e por esse ser um local típico para a realização de manifestações.
Concluindo, todos fomos capazes de constituir informações implícitas: considerando eventuais pressupostos - inferência realizada em a), pois se a Amiga 1 pede a devolução do CD, então só pode tê-lo emprestado para a colega; a partir das pistas oferecidas no próprio texto - como em b), c), d), e), f) e g); e a partir do conhecimento de mundo - como no item i).
As informações implícitas, portanto, constituem o sentido de um texto. No processo de leitura, tais informações só podem ser recuperadas por meio da inferenciação, ou seja, através da identificação de sentidos possibilitados por deduções e conclusões que articulam as marcas linguísticas do texto com as características da situação de comunicação e com os diversos tipos de conhecimentos prévios do leitor.
Alguns autores costumam classificar as inferências como locais ou globais. As locais seriam realizadas quando acontece uma lacuna de compreensão, provocada, por exemplo, pela presença de uma palavra cujo significado é desconhecido. Nesse caso, o leitor retoma o texto e procura pistas que permitam descobrir os sentidos. Já as globais são resultantes dos pressupostos e dos subentendidos, e são realizadas recuperando-se as marcas linguísticas do texto, a significação já elaborada, e articulando essas informações com os conhecimentos de mundo.
No processo de ensino, esses procedimentos indicados devem ser objeto de estudo e exercitação – por exemplo, em uma atividade de leitura colaborativa, modalidade relevante em práticas desenvolvidas na escolarização inicial e, especialmente, no processo de alfabetização.
Verbetes associados: Compreensão leitora, Enunciação / enunciado, Informação explícita no texto, Leitor proficiente, Leitura colaborativa, Sentido, significado e significação, Situação comunicativa, Texto
Referências bibliográficas:
KLEIMAN, A. Texto e Leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas (SP): Pontes, Editora da UNICAMP, 1989.
MARCUSCHI, L. A. Compreensão Textual como Trabalho Criativo. In: UNESP. Prograd. Caderno de Formação: formação de professores didática geral. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, p. 89-103, v. 11. Disponível em: http://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40358/3/01d17t07.pdf . Acesso em: 5 de maio de 2014.
MARCUSCHI, L. A. O Livro Didático de Língua Portuguesa em questão: o caso da compreensão de texto. Cadernos do I Colóquio de Leitura do Centro-Oeste. Goiânia: UFGO, 1999, p. 38-71.
ROJO, R. Letramento e Capacidades de Leitura para a Cidadania. In: FREITAS, M. T. A.; COSTA, S. R. (Orgs.). Leitura e Escrita na Formação de Professores. Juiz de Fora: EDUFJF/COMPED/MUSA, 2002.