Ambiente alfabetizador
Autor: Sara Mourão Monteiro,
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG/ Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE),
A expressão ambiente alfabetizador se tornou uma referência para a discussão de aspectos metodológicos da alfabetização nos meados da década de 1980. Com a difusão do ideário construtivista, para o qual o foco é a criança e seu processo de conceitualização da escrita, a interação da criança com esse objeto de conhecimento ganhou uma grande importância nos encaminhamentos pedagógicos. A ideia fundamental é a de que o aprendiz da língua escrita é capaz de refletir sobre o sistema de representação, apropriando-se de seus sinais gráficos e de suas regras de funcionamento, a partir do contato intenso com os materiais escritos e da participação ativa em práticas de leitura e escrita de adultos.
Dessa forma, o professor, visto como um mediador das experiências de imersão da criança nessas práticas, tem como estratégia pedagógica principal a organização de um ambiente capaz de estimular e desafiar o aprendiz em seu processo de aprendizagem – o ambiente alfabetizador – selecionando materiais de interesse das crianças, organizando a exposição e o trabalho com esses materiais em sala de aula, lendo e escrevendo para e com as crianças. Vale lembrar que a ênfase construtivista no ambiente alfabetizador provocou o surgimento de metodologias pedagógicas mais dinâmicas nas práticas docentes no Ensino Fundamental, como, por exemplo, o encaminhamento de projetos pedagógicos. Na realização desses projetos, as crianças têm oportunidade de fazer uso da escrita em um contexto de estudo, o que mobiliza seus processos de reflexão sobre a língua escrita em vários níveis (pragmático, sintático e fonológico), criando um ambiente favorável ao desenvolvimento da alfabetização e do letramento.
No início da década de 2000, a discussão sobre a prática pedagógica de alfabetização enfatiza a intervenção mais efetiva da ação pedagógica na aprendizagem do sistema de escrita pelas crianças. As atividades pedagógicas voltadas para o processo de alfabetização passam a ser valorizadas, sem se desconsiderar o processo construtivo do aprendiz. Nesse contexto, o fator determinante do ensino e da aprendizagem é o reconhecimento da importância do contato das crianças com a língua escrita, como fonte de suas reflexões sobre esse objeto de aprendizagem, do desenvolvimento de sua capacidade de leitura e produção de textos e, por fim, de sua apropriação da cultura escrita. O ambiente alfabetizador passa a ser especificamente considerado como aquele em que a cultura escrita, mediadora de toda prática de alfabetização, precisa ser reconhecida, problematizada, ou mesmo construída pelos participantes do contexto escolar. Ambiente alfabetizador pode, então, ser compreendido como a presença (e também a ausência) de livros, de textos digitais, de jornais, de revistas etc. e das práticas sociais e culturais de leitura e de escrita mediadas por esses materiais.
Verbetes associados: Alfabetização, Construtivismo, Cultura escrita, Fonologia, Pragmática, Práticas e eventos de letramento , Projeto de trabalho na alfabetização, Sintaxe, Suportes da escrita
Referências bibliográficas:
TEBEROSKY, A.; GALLART, M.S. (orgs.) Contextos de alfabetização inicial, Porto Alegre: Artmed, 2006.
TEBEROSKY, A. Debater e opinar estimulam a leitura e a escrita. Entrevista. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/debater-opinar-estimulam-leitura-escrita-423497.shtml. Acesso em 26.06.2014