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Leitura Expressiva

Autor: Carlos Augusto Novais,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

O termo leitura admite vários complementos, apresentando diversas implicações pedagógicas para cada um deles. Assim, temos, por exemplo: leitura com pausas protocoladas, em voz alta, extensiva, intensiva, silenciosa. Cada um desses tipos exerce funções diferenciadas na escola, de acordo com a variedade de propósitos apresentados para o ensino/aprendizagem da leitura. Independentemente dessas particularidades, podemos afirmar que toda leitura, mesmo a silenciosa, possui expressividade, uma vez que, inevitavelmente, o leitor participa ativamente da construção dos sentidos, inscrevendo suas marcas pessoais no processo de ler. É preciso distinguir, entretanto, essa expressividade comum daquela que se identifica com o que chamamos de leitura expressiva. Este termo designa uma proficiência leitora específica situada entre o simples reconhecimento e decodificação dos signos gráficos (oralização mecânica do texto) e a performance artística, que leva às últimas consequências a exploração das possibilidades artísticas do uso do corpo (experiência sensorial) e da voz (vocalização poética), na sua relação com o texto. A leitura expressiva, na expectativa de reconstruir e apresentar sua força sugestiva e significativa, se apresenta, então, como um desafio para a apreensão sensorial do texto. Nesse sentido, a expressividade pode motivar um leque de atividades diversificadas nas escolas, que vão de uma interpretação inicial do texto ao prazer de sua transmissão, como animações de leitura, saraus, recitais, dramatizações, gravações (podcasts), versões de programas de rádio.

Três fatores se mostram interligados na realização da leitura expressiva, merecendo atenção especial e estratégias específicas para sua compreensão: o texto, escrito ou memorizado; o corpo, com destaque para a voz; e a situação de leitura. Com relação ao texto, percebido como uma espécie de partitura, alguns aspectos se destacam: o tipo, o gênero (cada um se expressa de maneira diferente, especialmente o literário), os sinais gráficos (til, cedilha, apóstrofos, acentos), a pontuação, os campos semânticos (palavras-chaves), a sonoridade das palavras, a diagramação (fonte, cor, espaços), a sintaxe, entre outros. Com relação ao corpo e à voz, temos, principalmente: o movimento (rápido, moderado, lento), os gestos (suaves, intensos), a postura (graus de tensão, equilíbrio), o ritmo (alternância de elementos e pausas), a entoação (modulação dos segmentos frásicos), a dicção (clareza de pronúncia), o tom (coloquial, formal, elevado), a fluência (espontaneidade), o volume (baixo, moderado, alto). Com relação à situação de leitura, devemos considerar: o ouvinte (comunidade escolar, amigos, colegas, pais, desconhecidos), o ambiente (doméstico, escolar, público), o propósito (avaliação, fruição estética, apresentação artística) e os níveis de interação (intimista, objetiva). Cada um desses elementos participa ativamente para o sucesso da leitura expressiva. Para cada um deles, a escola pode e deve desenvolver atividades de iniciação e aprimoramento.

Um caso muito especial da leitura expressiva na escola, com destaque no processo de alfabetização e letramento, é a leitura de textos poético-literários, na qual a criatividade da criança dialoga com a criatividade do escritor. Tal diálogo não só possibilita a ampliação das habilidades de compreensão, interpretação e produção de sentidos de textos, como também alcançar o prazer da leitura, através do exercício dos recursos criativos da linguagem, favorecendo a formação da proficiência leitora.


Verbetes associados: Efeitos de sentido, Experiência estética literária, Fluência de leitura, Interpretação de leitura, Leitor proficiente, Leitura em voz alta, Leitura literária, Práticas de leitura


Referências bibliográficas:
BAJARD, E. Ler e dizer: compreensão e comunicação do texto escrito. São Paulo: Cortez, 1994.
OLIVEIRA, E. K. Leitura, voz e performance no ensino de literatura. Signótica. Goiânia, v. 22, n. 2, p. 277-307, jul./dez. 2010.
ZUMTHOR, P. Introdução à poesia oral. São Paulo: Hucitec, 1997.
______. Performance, recepção, leitura. São Paulo: Educ, 2000.

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