Magda Soares responde
Letra A • Terça-feira, 22 de Dezembro de 2015, 15:37:00
Quando alfabetizamos, no início do processo, devemos apresentar o nome das letras ou o som das letras, ou mediar para que as crianças, no uso, descubram o som e o nome das letras ?
Viviane Beckert Spiess - E. M. Dr. Amadeu da Luz - 3º ano
Pomerode – SC
Minha maior dificuldade é fazer com que o aluno identifique a letra pelo nome e entenda que, juntando a outras, terá um outro som, e assim forma uma palavra.
Janece Godinho Soares – E. E. Vale do Guaporé - 2º ano
Pontes e Lacerda – MT
No início do processo de alfabetização, o alfabetizador não deve se centralizar na letra nem no som da letra. Por quê? Sobretudo porque a letra corresponde a um fonema, e os fonemas linguisticamente não são pronunciáveis. A única exceção são as vogais, em que o nome da letra corresponde ao fonema que ela representa, embora uma letra vogal possa corresponder a mais de um fonema: o ‘a’ representa o /a/ [como em ‘abrir’], mas também representa o /ã/ [como em ‘anjo’]; o ‘o’, que representa a vogal fechada, como em olhar, a vogal aberta, como em ódio, a vogal nasal, como em onça; o mesmo ocorre com as demais vogais. Fala-se muito que as vogais são cinco e na verdade elas são doze.
Então, não se trata de uma escolha entre representar o nome da letra ou o som da letra, porque não é possível pronunciar o som das letras, das consoantes. Você até pode apresentar o nome das letras, e isso costuma ajudar, porque uma boa parte das letras do nosso alfabeto tem um nome em que está presente o fonema que ela representa. Por exemplo, o nome da letra ‘p’ é uma sílaba [pê], que começa com o fonema que essa letra representa. Em outras letras, o fonema a que a letra corresponde aparece no meio do nome. Por exemplo, na letra ‘m’, que tem o nome ‘eme’, que se pronuncia ‘emi’, o fonema /m/ está no meio do nome da letra. Tanto é assim que é frequente, por exemplo, a criança transformar uma letra numa sílaba: ao escrever, por exemplo, ‘peteca’, ela coloca apenas o ‘p’ representando a sílaba ‘pe’. Isso mostra que o nome da letra ajuda a criança a perceber o fonema que ela representa. Mas o que é fundamental é sempre trabalhar a letra na palavra, ou na sílaba, e não a letra isoladamente representando um som, porque não é possível pronunciar o som da letra, o fonema a que ela corresponde. Assim, não se trata de apresentar o nome da letra ou o som da letra. É um processo integrado: letras, sons das letras acompanhando o desenvolvimento da criança nas etapas psicogenéticas. A aprendizagem do sistema alfabético se dá pelo desenvolvimento simultâneo da conceitualização da escrita (as fases psicognéticas), o conhecimento das letras e a identificação dos fonemas a que as letras correspondem.
Trabalhar consciência fonológica é focar o som da letra ou da sílaba? É importante trabalhar rima e aliteração? Por quê?
Maria José Dias - E. M. José Brasil Dias - 1º ano
Nova Lima – MG
Tenho dúvida em relação ao que enfatizar primeiro, se o som das letras ou seu formato. A criança primeiro formula suas hipóteses com os códigos ou cria uma consciência fonológica?
Rejane Antunes Monteiro – C. E. Félix da Cunha - 1º ano
Pelotas – RS
Logo que nasce, a criança põe o foco sobretudo nos sons das palavras que as pessoas falam em volta dela. Tanto que começa a repeti-los, em geral os mais fáceis, que são os bilabiais [como em ‘pá-pá-pá’ e ‘mã-mã-mã’]. À medida que vai dando sentido a esses sons, a criança vai se desligando deles e passando a se fixar no significado. O que a gente precisa fazer na alfabetização é levar a criança a voltar a prestar atenção no som das palavras, pois a escrita alfabética representa o som das palavras, não o significado delas. Por isso, é importante desenvolver, desde a Educação Infantil, a consciência fonológica. Por exemplo, para que se trabalha rima? Se a professora trabalha bem uma parlenda em que a rima está presente, ela chama a atenção para o final igual: "Capelinha de melão /É de São João". A criança vai percebendo sons iguais, coloca sua atenção no som da parlenda, não só em seu significado. A aliteração, quando se focalizam palavras que começam com a mesma sílaba ou o mesmo fonema, que é o tipo de aliteração mais fácil para a criança em fase de alfabetização, o objetivo é também chamar a atenção para sons iguais, independentemente do significado das palavras; por exemplo: “vamos encontrar palavras que começam igual a ‘maçã’, ‘ma-çã’, que comece com ‘ma’. Igual a meu nome, Ma-gda. Quem me fala uma palavra que começa com ‘ma’?” E as respostas costumam ser: pera, laranja, abacaxi. Porque estão pensando na fruta maçã, o foco está no campo semântico da palavra, frutas. Essa passagem do foco no significado para o foco no som da palavra é um dos aspectos do desenvolvimento da consciência fonológica fundamental para a alfabetização: levar a criança a perceber os sons das palavras prepara-a para compreender que registra os sons das palavras, quando escreve, não o significado delas.
Uma outra dimensão da consciência fonológica é a criança perceber que a palavra pode ser dividida, segmentada, que é possível dividir ‘boneca’ em ‘bo-ne-ca’, ‘mesa’ em ‘me-sa’. Quando percebe essa possibilidade de segmentação, e põe o foco no som das sílabas, e não no significado da palavra, é que a criança chega à fase silábica, e é a sílaba que vai permitir que ela chegue ao fonema, confrontando sílabas em que apenas uma letra – um fonema – é diferente, porque só se chega ao fonema pela oposição. Quando a criança opõe ‘mar’, com ‘par’, com ‘lar’, vai ter possibilidade de identificar, pelo confronto, os fonemas representados pelas letras M, P, L, e observa que o sentido da palavra muda porque mudou o fonema inicial. Quando se fala em consciência fonológica, se está falando em um conjunto que envolve: a consciência do som da palavra, de partes iguais das palavras (rima e aliteração), da segmentação da palavra em partes, de consciência silábica e finalmente de consciência fonêmica. É um processo de desenvolvimento da criança que ocorre conjugando a aprendizagem das letras com a correspondência delas a fonemas, o que depende do desenvolvimento da consciência fonológica em seus vários níveis.
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