Magda Soares responde


     

Letra A • Terça-feira, 22 de Dezembro de 2015, 15:41:00

O professor que usa uma miscelânea de métodos na alfabetização mais ajuda ou atrapalha na hora de alfabetizar?

Naia Araújo Rodrigues - E.M. Professora Hilda Carvalho Mendes - 2º ano

Montes Claros – MG

 

Qual o melhor método para alfabetizar?

Cecilia Santana Jurec Kania –E. M. Antônio Andrade - 1º ano

Pinhais - PR

Na verdade, a questão mais importante, na alfabetização, não é ter um método, nem ter vários métodos e fazer uma miscelânea, ou aquilo que as professoras chamam de ‘método eclético’ – que revela, no fundo, uma certa sabedoria, porque, quando você examina os métodos de alfabetização que foram surgindo ao longo do tempo (fônico, silábico, global, etc), vê-se que cada um deles considerou um lado da alfabetização, ignorando os outros lados. O problema dos métodos chamados ‘tradicionais’ é que eles consideram ou um lado ou outro do multifacetado processo de alfabetização. Na alfabetização, é preciso desenvolver vários e diferentes aspectos simultaneamente. O que até permite admitir uma certa vantagem de quem faz uso de vários métodos, chamado aqui de ‘miscelânea’. O nome, porém, não é muito adequado, porque não se trata de fazer uma ‘miscelânea’ e, sim, de usar procedimentos adequados para cada meta, cada objetivo, considerando o ponto em que a criança está, de acordo com o processo cognitivo da criança e sua aprendizagem linguística. Para mim, a questão, como já disse em respostas anteriores, não é haver ‘um’ método para alfabetizar. Eu gosto de trocar a ordem dessa expressão e propor que o que é preciso é “alfabetizar com método”: o alfabetizador que entende o processo da criança trabalha com clareza, com sistematicidade, com sequência, de acordo com aquilo que é preciso fazer em cada faceta do processo, em cada etapa em que as crianças estão. Não se alfabetiza desenvolvendo uma atividade aqui, outra ali, um dia isso, outro dia aquilo, mas se alfabetiza tendo uma visão do processo como um todo e orientando a criança ao longo desse processo.

 

Minha maior dúvida é se ainda é importante trabalhar a letra cursiva na alfabetização.

Maria Amélia de Ávila Madruga –E. E. República Riograndense - 1º ano

Piratini – RS

                                          

Posso permitir que, mesmo no 3º ano, apesar de conhecerem as duas escritas, meus alunos continuem com a escrita da letra palito, ou devo cobrar o uso da letra cursiva?

Zaira Maria Soares Vargas - E. M. Zeferino Antunes de Almeida - 2º e 3º anos

Entre-Ijuís – RS

 

Quando as professoras perguntam se ainda é importante trabalhar a letra cursiva, se a criança pode optar por não usar a letra cursiva, está subjacente às perguntas o reconhecimento de que a letra cursiva vem sendo cada vez menos usada, porque realmente a tendência é que a tecnologia leve as pessoas a digitarem mais que a escreverem com lápis e papel. Mas acho que ainda é cedo para acreditar que, em curto prazo, as pessoas não vão mais escrever à mão, embora em alguns países já esteja sendo retirado da escola oficialmente o ensino da letra cursiva. Eu não sou tão avançada assim para concordar com isso... acho que a cursiva ainda é necessária em várias situações, nas práticas cotidianas. No entanto, é preciso reconhecer que, se antigamente era realmente necessário que a criança dominasse a cursiva, e eram comuns as aulas de caligrafia, hoje em dia cada vez menos esse ensino é necessário; mas é importante que a criança pelo menos saiba ler um texto em letra cursiva, porque ela vai se deparar muitas vezes com textos em cursiva. Por outro lado, o que é interessante é que o ensino da cursiva, se não for entendido como ensino de caligrafia, é quase desnecessário, porque as crianças passam quase naturalmente para a cursiva, muito por influência da família, sobretudo crianças das escolas públicas, com menos acesso às tecnologias. Pode haver uma orientação da professora, mas penso que  quase se pode deixar isso por conta da criança, e penso que se pode não exigir a cursiva. O que se deve cobrar é que a escrita seja legível porque, se a escrita é uma forma de comunicação, ela tem de possibilitar que o outro consiga ler o que é comunicado.

 

Como tornar o processo de aquisição da leitura uma prática prazerosa, na qual a criança tenha vontade de aprender, mesmo diante das dificuldades que estão presentes no seu dia a dia, em casa, no bairro e na família em que está inserida?

Amanda Maria Ribeiro Amorim - Escola Municipal Professora Maria do Socorro Ferreira Virino - 2º ano

Fortaleza – CE

 

Essas dificuldades, que se referem sobretudo às crianças das camadas populares, que frequentam as escolas públicas, são mais imaginadas pela escola e pelas classes privilegiadas do que propriamente reais. As crianças de escolas públicas realmente não têm as condições econômicas e sociais que têm as crianças das camadas privilegiadas, mas, como toda criança, elas são alegres, felizes, e brincam talvez muito mais do que as crianças das classes médias. Ajudam, sim, em casa, mas isso não impede que elas tenham prazeres, entre os quais, a leitura. No entanto, é preciso reconhecer que o livro, particularmente o livro de literatura infantil, é em geral muito pouco presente no contexto familiar das crianças das escolas públicas. Cabe à escola suprir essa lacuna. A alfabetização deve partir da leitura do livro infantil – porque esse é o material que agrada e atrai a criança. A partir da história, a professora tem condições de desenvolver, além de habilidades de compreensão e interpretação, a aprendizagem do sistema de escrita, por exemplo, ao tomar algumas palavras para buscar rimas, aliterações, segmentação em sílabas, ao orientar reescritas, e tantas outras atividades que um texto pode sugerir. O importante é a criança ter contato tanto quanto possível com livros de literatura infantil na escola. Tem que haver biblioteca na escola, bem montada, atraente. Se lamentavelmente não tem, que pelo menos tenha um canto de leitura atraente, onde as crianças tenham liberdade de manipular livros, e que tudo que a professora faça parta de textos e retorne a textos. O princípio de tudo é o texto que traga prazer para a criança: a história, a narrativa, a poesia, e até o texto informativo que responda a curiosidades. Ou seja, o fundamental é evitar fazer da aprendizagem da leitura e da escrita uma coisa árida, automática, desligada do mundo da escrita.

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