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O letramento de crianças em processo de alfabeitzação em uma escola municipal

Após a publicação da teoria psicogenética da língua escrita, elaborada por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, a qual explicita o processo cognitivo desenvolvido pela criança para o domínio da escrita, propusemo-nos a investigar como se chega à elaboração de textos escritos. A investigação parte das diferentes abordagens de letramento, que compreende o domínio da linguagem falada e escrita como um processo que extrapola a alfabetização, ou seja, o domínio do código alfabético. Iniciamos por investigar os papéis que a escrita vem assumindo desde sua invenção, concluindo o caráter ideológico que determina sua distribuição entre as classes sociais que compõem as sociedades ocidentais capitalistas. A visão que se tem da escrita no mundo ocidental atual é ainda marcada pela interpretação de que essa construção humana elevou o homem a uma categoria superior em seu processo de desenvolvimento filo e ontogenético. Tal pensamento leva essas mesmas sociedades a julgarem que comunidades iletradas ou pessoas não-alfabetizadas estão em uma fase de evolução anterior às que se utilizam da escrita, especialmente a escrita alfabética, como se a escrita fosse um processo natural do desenvolvimento humano a que mais cedo ou mais tarde todos chegaremos. É notório que de tudo isso decorrem inúmeras posturas: a desvalorização das culturas iletradas, o menosprezo de pessoas não-alfabetizadas nas sociedades letradas e a visão de que o analfabetismo deva ser erradicado como uma doença que acomete os mais incapazes. Ora vemos programas de educação compensatória, ora constatamos a desistência de um trabalho escolar de qualidade dirigido às crianças de famílias de baixa renda. Contestando as visões de supervalorização da escrita como meio de desenvolvimento superior humano ou como meio de ascensão social, nossa investigação parte de autores que alertam para a postura etnocêntrica das várias pesquisas realizadas entre comunidades iletradas ou entre sujeitos não-alfabetizados em sociedades letradas, para questionar os lugares sociais destinados a esses sujeitos. A escrita, do nosso ponto de vista, não traz condições de superioridade cognitiva, mas provoca formas diferentes de organização, tanto no que diz respeito às relações sociais como também aos modos mentais de solução de problemas e de compreensão de mundo. No entanto, não tratamos de uma alfabetização genérica, indeterminada. O que chamamos por domínio da escrita, que possibilitará ao sujeito uma participação política mais efetiva na sociedade é aquele que visa o letramento, ou seja, a capacidade de saber usar a língua e a linguagem de formas diversas, de acordo com o que requer cada situação discursiva. A função da escola torna-se, assim, contribuir para que seu aluno seja "poliglota em sua própria língua" , como o disse o gramático Evanildo Bechara em entrevista a um programa de televisão. Com a participação de professoras do ensino fundamental de uma escola da rede municipal de São Paulo, selecionamos cinco tipos de produção textual escrita, os quais foram desenvolvidos na forma de projetos didáticos voltados para alunos de 1ª série, tendo como ponto básico inicial a idéia de que a linguagem trazida por essas crianças deveria ser respeitada como uma das modalidades possíveis de linguagem e que a função da escola seria aproximá-las de outra modalidade considerada como a norma-culta da língua. O trabalho com todos os tipos obedeceu a uma seqüência definida pelos projetos: produção espontânea; contato dos alunos com modelos extraídos dos usos sociais, sobre os quais foram evidenciados alguns aspectos característicos de cada tipo; nova produção para se avaliar o quanto a intervenção didática permitiu a ampliação dos conhecimentos dos alunos. O acompanhamento dos projetos e das produções de cada aluno possibilitou a observação de indícios de letramento que se apresentavam nas produções das crianças antes de qualquer intervenção sistemática das professoras, a tomada de consciência, por parte dos alunos, de seus próprios conhecimentos e as incorporações que foram ocorrendo ao longo do trabalho com os diferentes tipos de texto.

Nome do Autor: Maria Helena Costa Braga Schmtid
Nome do Orientador: Marieta Lucia Machado Nicolau
Instituição: Universidade de São Paulo
Estado:São Paulo
Ano Publicação: 2001
Curso: Pós-graduação em Psicologia da Educação
Grau do Trabalho: Tese de Doutorado
Área: Ciências Humanas: Psicologia
Tipo de Pesquisa:
Referencial Teórico: Em análise
Assunto:Em análise
Referência: SCHMTID, Maria Helena Costa Braga. O letramento de crianças em processo de alfabeitzação em uma escola municipal. 2001. Tese de Doutorado (Pós-graduação em Psicologia da Educação) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.