Abec

Abec


     

Da fala para a leitura em voz alta: variação linguística, tipos de leitura e desempenho na aprendizagem inicial da leitura de alunos do 3º ano do ensino fundamental

O processo de alfabetização é um dos períodos mais importantes da educação básica. Para muitas crianças, é quando se inicia o primeiro contato com a escrita. Aprender a ler com autonomia um sistema alfabético é a capacidade necessária para o desenvolvimento da aprendizagem. No entanto, os últimos resultados da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) mostram que os alunos brasileiros estão concluindo a fase referente à consolidação da alfabetização sem conseguir ler e compreender textos simples. Em vista disso, Bortoni-Ricardo (2005) sugere que um dos fatores do baixo rendimento na alfabetização de crianças de classe menos favorecida é o fato de elas se defrontarem na escola com uma norma desconhecida, diferente do seu vernáculo. Por isso, quando se trata da aprendizagem inicial de leitura, devem ser consideradas também as diferenças dialetais dos aprendizes e do professor alfabetizador (FREITAG, 2011, 2013, 2015; FLÔRES, 2017, 2018). Estudos também têm verificado que fenômenos variáveis da fala podem ser transpostos para a leitura, principalmente os relacionados aos traços graduais, isto é, aqueles que estão presentes na fala de quase todos os brasileiros, como o apagamento do /d/ na sequência /ndo/, a monotongação, a ditongação, o /r/ em coda silábica (MACHADO, 2018b; AQUINO, 2011). A fim de contribuir com esta discussão, nesta pesquisa, temos como objetivo identificar a ocorrência de fenômenos variáveis da fala no gradiente de monitoramento estilístico e sua relação com os tipos de leitura dos alunos do 3º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Gina Franco, localizada em São Cristóvão/SE. Para isso, realizamos um acompanhamento longitudinal com uma turma no período de maio a dezembro de 2017, com a documentação da fala espontânea dos alunos, realização de atividades orais (narrativas, descrição e nomeação a partir de estímulos visuais), gravação de leitura em voz alta de textos escritos adequados ao currículo da turma e, por último, aplicamos um teste de compreensão leitora semelhante à ANA. Com base nas condições necessárias para a aprendizagem inicial da leitura (MORAIS; LEITE; KOLINSKY, 2013; MORAIS, 2013b;c), e a partir de gravações da leitura em voz alta identificamos os tipos de leitura dos estudantes. Também realizamos a análise dos fenômenos variáveis: apagamento do /d/ na sequência /ndo/, monotongação, ditongação e o apagamento do /r/ em coda silábica em três gradientes estilísticos: fala espontânea, atividades orais e leitura em voz alta. Constatamos que o apagamento do /d/ na sequência /ndo/, a monotongação, a ditongação e o apagamento do /r/ em coda silábica foram recorrentes tanto nas atividades orais quanto na fala espontânea. Na leitura em voz alta, o apagamento do /d/ e a ditongação apresentaram um maior percentual de não ocorrências do que a monotongação e o /r/ em coda silábica, que não se diferenciaram nos gradientes da fala espontânea e das atividades orais. Já sobre os resultados dos tipos de leitura dos 21 alunos da turma de 3º ano do ensino fundamental identificamos cinco tipos de leitura: seis alunos classificados com o tipo de leitura alfabética; seis caracterizados como leitura silábica; apenas dois alunos classificados com o tipo de leitura palavra por palavra e três alunos com o tipo de leitura hábil. Identificamos, também, quatro estudantes com o perfil de não leitura. Quanto ao teste de compreensão leitora, verificamos que existe relação positiva entre o tipo de leitura hábil e palavra por palavra com o desempenho no teste de compreensão leitora quanto aos escores e ao número de acertos. Os alunos cujo tipo de leitura está nos níveis mais avançados (hábil e palavra por palavra) são aqueles que acessam a rota lexical, o que foi evidenciado pela recorrência de traços graduais na sua leitura em voz alta; estes mesmos alunos também foram aqueles que obtiveram maior desempenho em teste de compreensão em leitura, tanto em escores, quanto em número de acertos. Concluímos, assim, que a presença de traços graduais na leitura em voz alta é uma pista preditiva do sucesso na aprendizagem inicial da leitura, e que um professor com treinamento sociolinguístico pode identificar, a partir do perfil de leitura, os alunos que ainda não estão acessando a rota lexical para a leitura.

Nome do Autor: José Júnior de Santana Sá
Nome do Orientador: Maria Carmen Silveira Barbosa
Instituição: Universidade Federal de Sergipe
Estado:Sergipe
Ano Publicação: 2019
Curso: Programa de Pós-Graduação em Educação
Grau do Trabalho: Dissertação de Mestrado Acadêmico
Área: Ciências Humanas: Educação
Tipo de Pesquisa:
Referencial Teórico: Em análise
Assunto:Em análise
Referência: SÁ, José Júnior de Santana. Da fala para a leitura em voz alta: variação linguística, tipos de leitura e desempenho na aprendizagem inicial da leitura de alunos do 3º ano do ensino fundamental. 2019. Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-Graduação em Educação) - Universidade Federal de Sergipe, Sergipe, 2019.