Abec

Abec


     

Leitura precoce no transtorno do espectro autista e no desenvolvimento típico

Introdução: O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por dificuldades de comunicação social e pela presença de comportamentos restritos e repetitivos. Um número relativamente elevado de crianças com TEA começam a ler espontaneamente em torno dos 3 ou 4 anos de idade, um fenômeno frequentemente denominado de hiperlexia na literatura e cuja principal característica consiste em uma discrepância entre a habilidade de decodificação (que é relativamente elevada) e a habilidade de compreensão da leitura (que é relativamente baixa). Objetivos: O presente estudo avaliou os correlatos da habilidade de leitura em dois grupos de leitores precoces em idade pré-escolar: um grupo com TEA e um grupo com desenvolvimento típico (DT). Em particular, o estudo examinou a existência de semelhanças e diferenças entre leitores precoces com e sem TEA, em relação a duas questões principais: 1) qual é a correlação entre variações na habilidade de ler através da recodificação fonológica e em habilidades visuoespaciais, por um lado, e variações na habilidade de ler palavras, por outro lado; e 2) qual é a contribuição da decodificação e do vocabulário receptivo para a compreensão da leitura de palavras. Método: A amostra foi composta por 26 leitores precoces em idade pré-escolar: 14 crianças com o diagnóstico de TEA (M = 4,4 anos de idade, DP = 0,5) e 12 crianças com DT (M = 5,2 anos, DP = 0,5). Além de testes que avaliam a leitura de palavras e pseudopalavras e a compreensão de leitura de palavras, as crianças foram submetidas a um teste de vocabulário receptivo e a testes que avaliam habilidades visuoespaciais. Resultados: Os dois grupos não diferiram em relação à habilidade de leitura de palavras e pseudopalavras. A habilidade de leitura de palavras correlacionou-se significativa e fortemente com a habilidade de leitura de pseudopalavras em ambos os grupos (rhos entre 0,61 e 0,71, para o grupo com TEA e entre 0,79 e 0,94, para o grupo com DT). Por outro lado, enquanto variações nas medidas de habilidades visuoespaciais correlacionaram-se forte e positivamente com variações nas medidas de leitura de palavras e pseudopalavras entre as crianças com TEA (rhos entre 0,61 e 0,80), essas correlações foram fracas e não significativas entre as crianças com DT (rhos entre -0,21 e 0,08). Finalmente, os resultados de uma análise de regressão múltipla avaliando a contribuição de variações no fator Grupo (TEA vs. DT), na decodificação e no vocabulário receptivo mostraram que tanto a decodificação quanto o vocabulário receptivo contribuíram única e significativamente para a variação na compreensão da leitura (f2 de Cohen= 1,04 e 1,13, respectivamente). De modo importante, esses resultados independeram de a criança ter ou não TEA (f2 de Cohen < 0,01, para o fator grupo). Discussão: Como ocorre entre leitores precoces com DT, leitores precoces com TEA aprendem a ler através do processamento das relações entre as letras e os sons na pronúncia das palavras. Da mesma maneira, como aqueles leitores, a habilidade de compreensão da leitura de palavras de leitores precoces com TEA depende fundamentalmente de variações na habilidade de decodificação e no vocabulário receptivo. Por outro lado, os resultados do presente estudo sugerem a existência de algumas diferenças no processo de aprendizagem da leitura entre leitores precoces com TEA e leitores precoces com DT. É possível, por exemplo, que leitores precoces com TEA, mas não leitores precoces com DT, beneficiam-se de suas habilidades relativamente elevadas de detectar padrões para aprender as correspondências entre as letras e os sons. As implicações desses resultados para a nossa compreensão da hiperlexia são discutidas.

Nome do Autor: Daniela Teixeira Gonçalves
Nome do Orientador: Cláudia Cardoso Martins
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais
Estado:Minas Gerais
Ano Publicação: 2020
Curso: Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Grau do Trabalho: Tese de Doutorado
Área: Ciências Humanas: Psicologia
Tipo de Pesquisa:
Referencial Teórico: Em análise
Assunto:Em análise
Referência: GONÇALVES, Daniela Teixeira. Leitura precoce no transtorno do espectro autista e no desenvolvimento típico. 2020. Tese de Doutorado (Programa de Pós-Graduação em Psicologia) - Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, 2020.