A vez da Educação Infantil

PNAIC promoveu o primeiro encontro do ano para professores da EI nos dias 20 e 21 de março


     

Acontece • Quinta-feira, 22 de Março de 2018, 13:02:00

 

Com formato um pouco diferente este ano, o PNAIC (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa) deu início, esta semana, à formação voltada para professores da Educação Infantil. Ocorreu nos dias 20 e 21 de março, na UFMG, o primeiro encontro presencial de formadores da primeira etapa da educação básica, com o tema “Leitura e Escrita na Educação Infantil”. O evento contou com a presença de 228 formadoras locais, além das formadoras regionais. Os próximos encontros ocorrerão nos dias 17 e 18 de abril e 8 e 9 de maio.

Primeiro dia

A professora Mônica Baptista abriu o evento com uma fala emocionada

A abertura do evento contou com a presença de Juliane Corrêa, diretora da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, de Kellen Senra, coordenadora estadual do PNAIC, de Valéria Resende, coordenadora de formação do PNAIC na UFMG, e de Mônica Correia Baptista, formadora estadual da Educação Infantil. Antes de suas falas, em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada recentemente no Rio de Janeiro, foi feita leitura de poemas exaltando a luta de mulheres negras e em seguida tocado o Hino Nacional Brasileiro, na voz de Fafá Belém, com fotos de mulheres em protestos de rua passando em tela de projeção.

Em sua fala, Mônica destacou que “essa luta pelo direito à educação de qualidade é uma luta feminina, sempre foi e sempre continuará sendo por todo o tempo, mesmo que os homens venham, e são muito bem-vindos… mas eles precisam vir entendendo que essa é uma luta marcadamente feminina, o que não quer dizer que seja uma luta de mulheres, mas que ela tem o traço feminino.” A formadora focou nos pontos positivos do PNAIC, mas não deixou de pontuar alguns problemas, como a falta de uma coordenação estadual e nacional do projeto para a Educação Infantil, o que poderia gerar uma maior integração com aquilo que é feito em outras regiões do país.

Interação e educação

Após a abertura, houve a formação da mesa redonda, mediada pela formadora regional Ângela Barreto e com a participação das professoras da FaE e integrantes do NEPEI (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Infância e Educação Infantil) Isabel Oliveira e Iza Rodrigues. O tema da mesa foi “Professoras, crianças e linguagens na Educação Infantil”. Ao tratar do tema central, Isabel focou no assunto “professoras, crianças e suas famílias”.

Inicialmente, fez uma reflexão sobre o contexto de vida que as crianças passaram a ter desde que a sociedade começou a organizar instituições para acolher, cuidar, educar e auxiliar em seu desenvolvimento. Isabel considera “estar recebendo as crianças na escola como um projeto societário (...). É uma construção social que nós fizemos ao longo da nossa história e na complexidade da nossa sociedade e é a instituição da educação infantil que compartilha com as famílias o cuidado e a educação das nossas crianças”.

Em seguida, explicou a necessidade de se entender a criança como vinda de um contexto social e familiar constituído por diversas dimensões e mostrou as vantagens de uma forma de educar que sabe ouvir as crianças e usar o conhecimento e a curiosidade que elas já possuem como suporte ao ensinar. Encerrou com exemplos práticos da integração da escola com a família, mostrando que a escola não é impermeável à presença da comunidade.

As professoras Iza Rodrigues (esquerda) e Isabel Oliveira comporam a mesa do primeiro dia

Após a apresentação de Isabel Oliveira, a professora Iza Rodrigues, com o assunto “Ser criança na educação infantil: infância e linguagem”, explicou como as pessoas se constituem na relação umas com as outras. Mostrou que as crianças também ensinam, tornando o ofício da docência mais rico e mais leve devido a essa alternância entre as relações de ensinar e aprender. Ao falar da linguagem, Iza demonstrou como ela é importante, já que permite a compreensão de quem se é no mundo e destacou que a comunicação deve ser pensada desde o nascimento, mesmo que por meio de gestos e movimentos da criança. Ainda segundo ela, a criança não deve ser tratada como um agente passivo, mas como um ator social participativo na sociedade. A professora encerrou mostrando como as brincadeiras, a imitação, a repetição e a interatividade aplicados em diversas atividades potencializam o trabalho do educador infantil.

Depois das falas de Isabel Oliveira e de Iza Rodrigues, houve perguntas e um debate com o público presente a partir do que foi exposto. Durante a tarde, foi feita a separação das formadoras locais em grupos comandados por suas respectivas coordenadoras regionais, que se organizaram nas salas de aula da FaE para debates mais específicos a respeito do PNAIC e sua aplicação e para a realização de atividades de formação.

Segundo dia

Os professores Levindo Carvalho e Juliana Gouthier falaram sobre brincadeiras e arte na Educação Infantil

Foi pensando a relação da literatura com a linguagem oral, o brincar e pensar que o segundo dia do encontro do PNAIC da Educação Infantil começou. A atividade inicial teve proposta de imersão no universo lúdico e imaginativo das crianças da faixa etária da pré-escola (até os 5 anos), através de cantigas de roda e versos, brincadeiras e descontração entre os professores e professoras ali presentes.

Após esse momento, parte da obra ‘Infância’ de Graciliano Ramos foi lida causando um silêncio instantâneo e emocionando a muitos. A música “O Seu Olhar” do cantor Arnaldo Antunes foi reproduzida logo em seguida e as duas obras, juntas, foram propostas para causar a reflexão da importância da literatura e a visão pelo ‘olhar do outro’ que ela causa.

Mais adiante, o projeto “Tertúlia Literária” - que consiste em um acordo de leitura entre professores sendo elegido um livro por mês e debatendo-o em encontros que contam, além da discussão, com confraternização e brincadeiras - foi apresentado pela professora Marly Andrade. O projeto tem duração de 10 meses e serve para incentivar os professores a lerem mais. Segundo Marly, a leitura em conjunto estimula e acaba contagiando os docentes: "a gente tem que contagiar o outro com nosso querer", disse.

Brincadeiras e arte

Posteriormente, o professor da FaE, também pesquisador do NEPEI, Levindo Diniz Carvalho iniciou uma palestra/troca de experiências sobre “Interações, Brincadeiras e Cultura Infantil”. A conversa teve como primeiro assunto as diversas visões do que é ser criança ao longo da história e as diferentes formas de viver a infância em contextos sociais distintos. Logo após, Levindo propôs a discussão sobre trabalhar a dimensão lúdica e imaginativa das crianças pensando as especificidades locais, por exemplo, as crianças da tribo Pataxós que faziam bonecas de folha de mamona e como isso poderia ser abordado na escola.

O professor ainda comentou sobre a importância do espaço, da interação com ele e como explorá-lo pode vir a auxiliar o aprendizado: “queremos que nossa escola se pareça com o que?”, questionou. Por fim, Levindo conclui dizendo da importância da pré-escola na idade certa, pensando principalmente que não há uma “segunda chance” como o EJA (Educação de Jovens e Adultos) nos anos seguintes.

Objetos confeccionados pelas formadoras a partir de proposta da professora Juliana Gouthier

Em seguida, a professora da FaE Juliana Gouthier foi chamada para ministrar uma conversa sobre “Arte e a Educação Infantil”. Nela, Juliana, doutora em Artes pela UFMG, trouxe questionamentos sobre a presença da arte na escola e para que serve, dizendo ela não é para formar artistas e sim para trazer a experimentação da arte. A professora reforçou que o que é feito nas aulas de arte não é propriamente arte, mas exercícios de liberdade que encorajam a autonomia da criança e que, para isso, é necessário que os professores arrisquem e fujam do convencional. Ela disse, ainda, sobre como a arte é um instrumento importante para aguçar a percepção infantil e do olhar diferenciado que a criança tem, chamado por ela de sabedorias e saber poético que devem ser respeitados e valorizados.

Uma experimentação prática foi proposta por Juliana para contribuir com o debate sobre a arte e a educação infantil: foram entregues saquinhos de papel que continham objetos variados, como fitas, luvas, figuras e cola e a dinâmica foi construir com aqueles itens um objeto novo que poderia conter qualquer significado. Por fim, as peças foram expostas no auditório, sendo observadas muitas cores e formatos diferentes.

Foram proferidos agradecimentos aos professores Levindo e Juliana, que responderam, logo após, a perguntas do público ali presente, causando um novo debate construtivo.

 

Assista às atividades da parte da manhã do dia 20 em nosso canal.