Além da prática

Concepções subjacentes às práticas em sala de aula são o foco da palestra que encerra o primeiro dia do I Congresso Brasileiro de Alfabetização


     

Acontece • Quinta-feira, 11 de Julho de 2013, 11:34:00

Encerrando o primeiro dia de palestras do I CONBAlf, a mesa “Sentidos da Alfabetização nas Práticas Educacionais”, realizada na noite de segunda (8), abordou a articulação entre as técnicas utilizadas em sala para alfabetizar e as concepções que atravessam a ação dos professores.

Ivânia Pereira Midon de Souza trouxe experiências bem sucedidas de processos de alfabetização em escolas do Mato Grosso. Ela realizou uma pesquisa com professoras da rede municipal de Várzea Grande e Cuiabá, “que traz indicativos de que é possível alfabetizar letrando”. Segundo Ivânia, a pesquisa mostra como, mesmo com dificuldades estruturais, as professoras conseguiram promover uma emancipação intelectual e social dos alunos. A pesquisa se baseou em provas com os alunos, entrevistas com professores e alunos, observação das aulas e diagnósticos psicogenéticos individuais.

Com uma citação de Chartier, Ivânia conclui que um bom alfabetizador é eclético e tira proveito de várias práticas em paralelo para melhorar seu ensino. Além disso, a visão otimista diante do aprendizado dos alunos, acreditando no potencial das crianças, foi um ponto fundamental no sucesso dessas práticas.

A busca por boas práticas

Em seguida, Telma Weiz, que atualmente coordena uma especialização em alfabetização na ISE-Vera Cruz, tratou de algumas práticas em sala de aula que seguiam as concepções do construtivismo piagetiano. Essas práticas buscam construir um processo através do qual o sujeito reconstrói para si mesmo determinado objeto presente em sua cultura.

Criticando a tradição pedagógica brasileira de separar a alfabetização do letramento, ela diz que a falta de diálogo entre ensino e aprendizagem está e sempre esteve na origem da produção do analfabetismo dentro da história.

Telma participou da fase inicial de elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), querendo mudar essa visão e mostrando que os aspectos discursivos da língua são concomitantes ou mesmo anteriores ao domínio alfabético da escrita. Apesar disso, mesmo atualmente, o que se segue nas grades escolares não considera as ideias do sujeito aprendiz, como se as ideias que guiam o aluno não fizessem diferença. “Para que sejam boas práticas de alfabetização, é preciso que haja informação disponível e espaço e condições para reflexões sobre o sistema de escrita”, afirma a pesquisadora.

Os sentidos da alfabetização

Silvia Gasparian Colello, docente da Faculdade de Educação da USP e membro fundadora da Sociedade Brasileira de Alfabetização (SBAlf) atentou para a necessidade de pensar um rumo para as pesquisas, práticas educacionais e políticas públicas de educação. Sílvia destaca: os diversos sentidos da alfabetização e as diferentes concepções de língua estão sempre por trás das práticas realizadas em sala de aula.

De acordo com Silvia, concepções monológicas da língua, como a ideia de que ela é um código, tendem a privilegiar associações de fonemas e grafemas de formas mecânicas, em uma preocupação muito grande com a ortografia, gramática e com as estruturas linguísticas. A língua se torna autônoma, excluindo qualquer influência do contexto ou do interlocutor, devendo ser apenas decifrada.

A concepção dialógica da linguagem surge como uma prática social, um processo cognitivo de construção e negociação de sentidos. O texto se torna passível de ênfases, perguntas e impressões. Para a pesquisadora, essa é uma concepção ainda pouco absorvida pelo professorado em geral e isso contagia o modo de se ensinar a ler e escrever.

Ecoando Paulo Freire e buscando superar o modelo linear de compreensão do ensino, Silvia reivindica mais: “Ensinar a ler e escrever é pouco, eu quero formar um sujeito produtor de texto, um sujeito leitor, é isso que eu quero.”