Alternativas para a educação escolar

Editorial do jornal Letra A 43


     

Letra A • Quinta-feira, 10 de Dezembro de 2015, 18:45:00

Os valores atribuídos à escrita e aos seus modos de funcionamento social podem ser colocados em questão quando experiências educativas alternativas são confrontadas com as práticas escolares representativas de uma tradição. Nesse sentido, a experiência dos professores indígenas, apresentada nesta edição, induz a um questionamento sobre os modelos de escola, produzindo uma reflexão sobre os seus ideais e princípios, especialmente quando há produtivos relatos sobre o que a educação indígena prioriza no aprendizado do português quando essa não é a língua materna, e também sobre o valor da escola para a comunidade. Nas comunidades indígenas que foram visitadas por nosso jornalista, são visíveis os esforços por uma escola integrada à vida, nas suas variadas dimensões históricas e culturais, o que situa o professor em uma condição de partilha de  expectativas e de realização de projetos negociados pelo grupo. Assim, são docentes que  exercem liderança, são autores de materiais didáticos próprios que constroem projetos de educação voltados para a cidadania e para a participação política. A escrita, nesse contexto específico, acaba sendo um mecanismo de luta pelos próprios direitos de diferentes etnias e aparece como forma de empoderamento em diversos campos de atuação quer cotidiana quer profissional. Com a experiência indígena, noções de territorialidade, ancestralidade, respeito às experiências dos anciões são destacadas como importantes elementos identitários. Certamente, as alternativas para a educação escolar indígena, por apresentarem uma ação de contextualização histórica e social, representam inspiração para outras práticas de ensino e aprendizagem.

Uma série de reflexões sobre o trabalho com a diversidade também está destacada neste número do jornal Letra A. Uma abordagem interessante está na seção Livro na Roda. A literatura é uma porta de entrada para outras visões do mundo e permite que temas sensíveis como direitos humanos, sexualidade, racismo, violência entrem na escola e  sejam abordados de forma consistente. Não se afirma que a literatura esteja a serviço de um utilitarismo pedagógico, mas argumenta-se que a esfera literária potencializa a discussão sobre a condição humana. O verbete ‘mediação da leitura literária’, por exemplo, mostra a importância de envolvimento de crianças e adolescentes em papéis de mediação, visando a aproximação de leitores e textos literários por meio de situações criadas pela escola, seja inovando em piqueniques literários, seja buscando a adesão dos alunos na criação de critérios de indicação de livros para outros leitores, seja abrindo as bibliotecas escolares para as famílias.

A entrevista desta edição traz reflexões sobre o significado de avaliações, com indicações de seus limites e com apontamentos sobre os avanços de processos de avaliação em grande escala. Mesmo sabendo que uma avaliação tem seus limites e sempre deve ser relacionada a outros indicadores, seus resultados podem ajudar a pensar melhor: que condições pedagógicas e políticas geram determinados resultados? O que precisamos compreender para dentro e para fora dos resultados cognitivos? Em qual arena de luta devemos trabalhar utilizando os diagnósticos que uma avaliação da alfabetização pode trazer, no sentido de construir um currículo que vá muito além do que se mede? Essas perguntas sinalizam que, para além de resultados quantificáveis, interessam os desdobramentos qualitativos que permitam pensar as ações educativas de modo a ratificar as escolhas acertadas e a retificar caminhos que se mostram improdutivos ou inconsistentes.