Avaliar para entender, entender para planejar


     

Letra A • Quinta-feira, 10 de Dezembro de 2015, 13:53:00

Os resultados da avaliação têm sido levados em conta nas discussões do MEC para a construção da Base Nacional Comum?  Havendo uma base construída, como isso impacta nas avaliações em grande escala?

Para a Base Nacional Comum, os resultados de avaliação não são diretamente levados em conta. Eles auxiliam muito a reorientação das políticas, em geral. A existência de uma Base Nacional Comum vai mostrar a necessidade da revisão de todas as matrizes de avaliação, já que vamos ter parâmetros mais claros. É a avaliação que se adequa à Base Nacional Comum Curricular, e não o contrário, porque não é a avaliação que dita o que precisa ser ensinado. A Base é um marco também para esse movimento, em que teremos que revisar as matrizes de todas as avaliações de larga escala. 

Em quais aspectos a ANA se aproxima e em quais se diferencia da Provinha Brasil, que é outro instrumento de avaliação destinado aos anos iniciais do Ensino Fundamental?

No Ensino Fundamental, temos três instrumentos. Temos, primeiro, a Provinha Brasil no 2º ano: a diferença dela para todos os outros é que é um instrumento que o Inep entrega para as redes e elas próprias aplicam e gerenciam os resultados. Portanto, não precisa retornar para o Inep; eu sempre digo que é um instrumento de autoconsumo. Temos a ANA no 3º ano e, ainda nos anos iniciais do Ensino Fundamental, temos a Prova Brasil (no 5º ano). A Provinha Brasil e a ANA se assemelham no objetivo de aferir o nível de alfabetização; a diferença é a forma como elas são aplicadas. A Provinha Brasil tem um perfil diagnóstico do meio do ciclo e é aplicada pelo próprio professor. Já a ANA é uma avaliação externa que faz uma análise de resultados mais ampla e devolve o resultado no mesmo modelo que as outras avaliações que o Inep produz. Elas se relacionam porque a Provinha Brasil também pode ajudar a predizer algumas dificuldades durante o ciclo. Quando se aplica uma prova de alfabetização no 2º ano, o professor tem maiores chances de averiguar o que precisa ser corrigido.

De que forma os professores e a comunidade escolar podem utilizar os resultados da ANA como instrumento pedagógico?

O diagnóstico que a ANA fornece é muito informativo: nós conseguimos dizer quais são as habilidades que as crianças naquela escola provavelmente não alcançaram ainda, quais são os tipos de textos que elas não leem ainda, bem como na Matemática, pensando nas habilidades, quais são os contextos nos quais são aplicados os conhecimentos matemáticos que eles ainda não dominam. A leitura do resultado pode reorientar a prática; o professor pode passar a fazer um planejamento pensando em contemplar essas questões – não exclusivamente, pois existem muitas outras coisas no currículo e na prática que precisam ser contempladas, mas o resultado de avaliação dá boas informações sobre o tipo de suporte, de gêneros textuais e, no caso da Matemática, sobre quais contextos matemáticos ainda é preciso realizar um esforço para se trabalhar na escola. Os gestores, da mesma forma, quando olham os indicadores de nível socioeconômico, quando olham os indicadores de formação docente, precisam tomar decisões. Menos em termos de práticas pedagógicas, mas ainda assim ele precisa tentar entender quais são os elementos que são de sua responsabilidade e que interferem na prática pedagógica. É uma análise que precisa ser feita em conjunto.

Como seria, então, essa utilização dos resultados pelo gestor?

Eu acredito que seja analisando quais são as condições dessas escolas que apresentaram os resultados – vamos falar nos piores resultados – e que tipo de prática, que tipo de contexto é aquele em que o gestor precisa intervir. Então, a depender do resultado, é preciso investir em formação continuada, ou avaliar o programa de formação continuada que não funciona bem, ou os problemas de gestão ou da alta rotatividade de professores... O gestor municipal ou estadual precisa olhar para esses dados, e os dados de desempenho são um alerta para que ele consiga analisar as condições e veja a infraestrutura daquela escola, veja a formação docente e faça uma intervenção nessas questões, que são de sua alçada.

O momento de aplicação dos testes da ANA gera dúvidas entre professores, coordenadores ou diretores das escolas? Quais são dúvidas mais comuns?

Tem um problema com o fato de não poder acessar a prova; essa é uma reclamação comum. Eles também têm dificuldade com a metodologia de aplicação, porque é uma metodologia diferente da Prova Brasil, a que eles já estão acostumados. Nós não aplicamos blocos, aplicamos uma prova inteira.

Outra queixa comum tem sido a aplicação em dois dias, que atrapalha um pouco a dinâmica da escola. A primeira aplicação em dois dias que fizemos foi quando inserimos o conteúdo de Ciências na Prova Brasil. E a aplicação da ANA em dois dias – embora seja uma estratégia muito importante para rssa fo alguém para distribuir.eem ealizar essa avaliação – aparentemente tem sido um pouco desestabilizadora dessa dinâmica escolar.

E em relação à resposta aos questionários, existem dúvidas ou problemas mais recorrentes que você destacaria?

No caso da ANA em particular, foi a primeira tentativa de aplicação de questionário por meio de sistema online, o que diminui o custo para praticamente zero, já que não é necessário imprimir nem contratar pessoal para distribuir. Essa foi uma tentativa muito importante do Inep, mas que teve muitos problemas, tanto na edição de 2013 quanto na de 2014. O sistema do Inep é muito seguro, o que dificultou o acesso das pessoas aos questionários; esse tem sido nosso problema mais recorrente. Nós fizemos uma modificação significativa no sistema para a reaplicação em 2016. Em 2013 tivemos poucos acessos ao sistema. Em 2014, o sistema funcionou melhor, mas ainda tivemos baixa resposta, por causa de instabilidades. Imprimir os questionários, a exemplo da Prova Brasil, significa ter pouco retorno também. Por isso, pensamos em uma outra forma, transformando o questionário em algo online. Esperamos que, em 2016, as redes de ensino já estejam mais acostumadas a preencher online.

A ANA surge ligada diretamente ao Pnaic. De que maneira o andamento do programa tem interferido na elaboração e na aplicação da avaliação? Em caso de interrupção do Pnaic, a ANA continuará a ser aplicada?

Sim, a ANA vai ser aplicada como um indicador de alfabetização, independente do Pacto. Agora, os resultados da avaliação e a forma de aplicação precisam estar coerentes com esse programa de formação. A gente tem uma interlocução muito próxima com o MEC e tem buscado devolver os dados para que eles possam pensar na reorientação e no aprimoramento dessas práticas. Esse é o tipo de ação e retroalimentação do programa.

 

SAIBA MAIS

Ceale Debate: Avaliação Nacional da Alfabetização: Concepções e Uso de Resultados (Ceale, 2015)

O ciclo de palestras Ceale Debate convidou, no mês de agosto, Ticiane Bombassaro Marassi para falar sobre a ANA. A pesquisadora do Inep apresentou detalhadamente a avaliação e explicou como ela é construída e de que forma são sistematizados os resultados, indicando como estes podem ser lidos pelos diferentes públicos interessados.

Acesse o vídeo do debate e a apresentação da palestra