Bebeteca: espaço de formação

A Faculdade de Educação da UFMG tem um lugar dedicado à literatura na primeira infância e à formação de mediadores de leitura na Educação Infantil


     

Letra A • Quarta-feira, 27 de Julho de 2016, 10:38:00

 

Por Poliana Moreira

Um local confortável, acolhedor e especialmente concebido para bebês e crianças pequenas. Com um acervo de mais de 2 mil livros, a bebeteca da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG funciona na Sala de Leitura da Biblioteca Alaíde Lisboa desde outubro de 2011, voltada para atender crianças com idades entre 0 e 6 anos incompletos. Ainda pouco conhecidas, as bebetecas têm conquistado mais espaço e destaque a cada dia, tendo como finalidade principal promover a leitura literária na primeira infância.

O Grupo de Pesquisa Leitura e Escrita na Primeira Infância (Lepi), vinculado ao Ceale, é o responsável pela coordenação desse espaço. “Além de local de incentivo à leitura das crianças desde bebês, é também um centro de estudos a partir do qual se realizam pesquisas e se desenvolvem ações de formação de mediadores de leitura”, explica a professora Mônica Correia Baptista, coordenadora do Lepi. Atualmente, professoras da Unidade Municipal de Educação Infantil (Umei) Alaíde Lisboa, em Belo Horizonte (MG), e alunas do curso de Pedagogia da FaE são o público da Oficina de Formação de Mediadores e Promotores de Leitura Literária. O trabalho com as educadoras incluiu relatos de experiência, leitura de textos teóricos, acesso ao material utilizado em situações de leitura de histórias e um acompanhamento sobre as dificuldades e as dúvidas das professoras. “A oficina mostrou a importância dessa formação, pois as obras de leitura literária para crianças pequenas vêm apresentando, a cada dia, um cuidado estético, não só em relação à sua materialidade, como também no tratamento do seu teor literário”, afirma Celia Abicalil Belmiro, pesquisadora do Lepi e coordenadora da bebeteca.

Atividades voltadas para as crianças foram desenvolvidas, entre 2012 e 2015, a partir de uma parceria com a UMEI Santa Amélia, também em Belo Horizonte. “Era um projeto-piloto de mão dupla: ao mesmo tempo em que trabalhávamos literatura infantil com as crianças, também formávamos as professoras como mediadoras de leitura”, conta Cristiene Leite Galvão, pesquisadora do Lepi.

Os resultados do trabalho são observados em sala de aula por quem participa do projeto. Cristiene relembra o caso relatado por uma professora: enquanto ela cantava e tocava no violão uma música que tinha como personagem um sapo, uma criança com cerca de um ano de idade se levantou, foi até a biblioteca de sala e pegou um livro com um sapo na capa. Caminhou até a professora para mostrar a ela o livro e ainda falou o nome do animal. “Ela estabeleceu uma relação: ‘olha, o sapo não é só aí onde você canta, tem aqui no meu livro também’”, destaca Cristiene. “Isso é que é ampliar os sentidos. Se você pensar, é muito pouca idade, então tem que acreditar que essas crianças são competentes, têm habilidades e produzem sentidos”, afirma a colaboradora da bebeteca, que por vinte anos foi professora de Educação Infantil.

 

Ampliando sentidos

Sentadas em tapetes acolchoados, entre os mais de 2 mil títulos de literatura infantil, as crianças são recebidas para leitura de histórias em voz alta, brincadeiras cantadas e recitais de poesia. O acesso aos livros na bebeteca é livre e cada visitante pode fazer suas escolhas. “O livro não depende de faixa etária e as crianças conseguem produzir sentidos dentro da experiência que elas possuem. Não é o sentido que o adulto quer que essas crianças produzam, é o sentido que é possível a criança construir”, ressalta Cristiene. Para ampliar essas possibilidades, o acervo de livros da bebeteca é atualizado e avaliado constantemente, a partir de uma ficha de análise elaborada pelo Lepi. “A gente quer que os livros ampliem os sentidos construídos pelas crianças, tanto na linguagem verbal quanto na estética do objeto”, destaca Cristiene.

A bebeteca, que priorizou inicialmente a construção de seu acervo, foi aos poucos adaptando o ambiente conforme novas necessidades eram percebidas – por exemplo, com a instalação dos tapetes acolchoados. Um dos planos no horizonte é a abertura da bebeteca à comunidade, já que hoje seu funcionamento ainda se restringe às atividades com as UMEIs parceiras e com alunas da graduação. “Queremos receber os pais aqui com os bebês ou com os filhos mais velhos e elaborar atividades em que eles possam brincar, cantar, ler histórias, participar da leitura literária. Nosso projeto é ambicioso”, conta com entusiasmo Cristiene.