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Haicai e música na sala de aula
Letra A • Sexta-feira, 21 de Dezembro de 2018, 15:02:00
Os versinhos que encantam
Os alunos que se apaixonaram pela poesia através do Haicai
Por Teresa Cristina
“Hai” é brincadeira, gracejo e “kai” é harmonia e realização: em português, ‘Haicai’. Essa poesia concisa, divertida, leve, bonita e de origem japonesa tem leitura rápida, mas efeito duradouro. Pode encantar da criança ao idoso e trazer, em três versos, emoções diversas. Foi usando essa poesia de linguagem simples que a professora Renata Guimarães iniciou um projeto em 2017 com os alunos do 1º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Sarah Kubitschek, em Belo Horizonte (MG).
Primeiro, ela começou a trabalhar a poesia com as crianças e logo observou o interesse dos alunos pela produção de poemas: “Comecei a trabalhar a poesia com eles com o próprio livro didático de português (...) aí eles começaram a se interessar por rimas e traziam rimas para mim quase todos os dias”. Renata viu, então, uma oportunidade de ir além, trabalhando com o Haicai, que, por serem versos simples e interessantes, próximos da linguagem das crianças, poderiam despertar o interesse delas mais rapidamente.
A professora trouxe, para a sala de aula, o livro de Haicais infantil ‘Três Gotas de Poesia’, da autora mineira Ângela Leite de Souza. As crianças, segundo ela, se interessaram tanto que começaram a decorar as poesias sem que ela pedisse. Após essas leituras, ela começou a incentivar os alunos a escreverem seus próprios Haicais e, coletivamente, escolheram temas e escreveram alguns. Os Haicais escritos resultaram em um livro: as próprias crianças ilustraram seus poemas com materiais recicláveis, entre outros. Além da escrita do Haicai, Renata auxiliou as crianças a escreverem autobiografias: “Nós pesquisamos também sobre a vida da Ângela, a biografia dela. Aí, eles também fizeram uma biografia deles mesmos, cada um fez a sua, falando o que gostava, por exemplo”.
A recepção do projeto foi expressiva: “eles amaram o projeto, tivemos o retorno da família também; crianças que queriam ser autoras, escrever um livro ou que já tinham até escrito o primeiro livro”, conta Renata. O resultado, assim, foi o despertar do interesse pela leitura, escrita e o gosto pela poesia.
Música na escola
Projeto de Londrina trabalha a música cantada com crianças de escolas municipais
Por Bruno E. Campoi
A partir do desejo de levar a Educação Musical, através da voz, para crianças de escolas municipais de sua cidade, a professora de música Oleide Lelis, de Londrina (PR), criou o projeto “Educação Musical Através do Canto Coral – Um Canto em Cada Canto”, do qual atualmente é coordenadora. Hoje, com 17 anos de existência, o projeto superou suas ambições iniciais e continua superando desafios ao atender 16 escolas da cidade, tornando-se parte importante da vida dos alunos e da comunidade. Isso é percebido na fala de sua idealizadora, que aponta que já passaram pela iniciativa mais de dez mil crianças, dentre elas até um aluno do projeto, que hoje se tornou um monitor.
Com ensaios de uma hora e meia que acontecem uma vez por semana em cada escola, na maioria dos casos, durante o horário de aulas, o projeto ensina a alunos do 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental não só questões musicais, como também relativas à concentração, atenção, responsabilidade, autoestima, dentre muitas outras. Para isso, Oleide conta que foi formada uma equipe de dez monitores “escolhidos a dedo”, sendo que um dos principais requisitos para a escolha foi o de que eles acreditassem que poderiam mudar a vida das crianças por meio do trabalho desenvolvido.
Esses professores se revezam entre as diversas escolas que participam do projeto e, além de transmitir conhecimentos musicais, também desenvolvem atividades dinâmicas e lúdicas para que as crianças consigam manter o foco. Em sua metodologia são usadas, por exemplo, recompensas, como o “cartão de campeão”, que é dado às crianças que conseguiram superar as expectativas. O planejamento das aulas é feito em uma reunião semanal na qual todas as professoras e professores do grupo se reúnem para discutir o que farão e avaliar o resultado daquilo que foi anteriormente proposto para as escolas.
De acordo com Oleide, o principal objetivo é fazer música na escola por meio da voz, por essa ser a forma mais barata e eficaz encontrada para atingir um número maior de crianças com menos recursos. O projeto consegue se manter principalmente graças ao Programa Municipal de Incentivo à Cultura de Londrina e por um convênio com a Secretaria Municipal de Educação. Mesmo com os recursos disponibilizados, ainda precisam ser feitas ações, como jantares, para complementar a renda e continuar levando música às crianças.
O único critério para que as crianças das escolas participantes do projeto possam cantar é que elas queiram. Não há nenhum tipo de distinção, já que as músicas são escolhidas de forma que qualquer uma possa cantar. Apesar disso, Oleide deixa claro que o repertório é escolhido sem nunca deixar de pensar no desafio. Dentre as músicas escolhidas, estão muitas de outros países e nas mais variadas línguas, a exemplo de uma música em hebraico chamada ‘HineiMaTov’. Assim, com músicas cantadas em uníssono, duas vozes ou cânone, as habilidades de raciocínio também são fortalecidas.
Dentre os muitos benefícios do contato com a música, destaca-se a contribuição para o desenvolvimento dos potenciais psicomotor, cognitivo e emocional das crianças. Assim, Oleide afirma que o projeto não trata simplesmente de “cantar por cantar, a gente trabalha muito a autoestima da criança, a responsabilidade, a atenção... coisas para a vida dela”, defende.
Tudo o que é aprendido não fica só dentro da sala de aula, já que, durante o ano, são feitas apresentações. A primeira acontece no fim do primeiro semestre, sendo realizado um concerto dentro da própria escola. No fim do ano, é realizado o fechamento, no qual as escolas participantes, que trabalham o mesmo repertório, apresentam as músicas aprendidas, em um espaço mais amplo, localizado no centro da cidade.