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Letra A • Sexta-feira, 15 de Maio de 2015, 15:23:00
Descontruindo estereótipos
Professoras utilizam conto de fadas bem original para abordar gênero, identidade e papéis sociais
Por Manuela Peixoto
Já pensou em uma princesa que se veste de azul e tem cabelos crespos? E que tal um príncipe gordo e medroso? Essas características não se encaixam nos perfis de personagens dos contos de fadas. E foi exatamente essa a intenção das professoras Cibele Ribeiro e Charlene Silva, da Escola Municipal Celina Martins Jallad, em Campo Grande (MS), ao realizar um projeto com uma turma de Educação Infantil: desconstruir a representação tradicional e pensar em outras formas de ser príncipe e princesa.
Ao perceber certa segregação entre os alunos na sala de aula – onde menino não brinca com menina e vice-versa, ou até mesmo por questões raciais –, as professoras decidiram criar um projeto que ampliasse a visão das crianças para além dos estereótipos. Para isso, trabalharam com a leitura do livro “As Aventuras da Princesa Pantaneira” (de Constantina Xavier), que conta a história de Camuela, uma princesa do Pantanal – que vive uma realidade bem mais próxima dos alunos.
A partir dessa leitura e das sugestões das crianças, as professoras criaram um jogo de tabuleiro em que cada casa lança um desafio que remete à história da princesa: imite um de seus animais de estimação; mate a sede tomando um tererê (bebida de origem indígena); coma uma chipa (prato típico sul matogrossense), entre outros.
Depois do jogo, as crianças criaram, através de desenhos, uma nova aventura para Camuela. “Na história que eles inventaram, a princesa faz muita coisa, brinca e passa por várias aventuras, coisas que antes eles achavam que somente um menino poderia fazer. Todos participaram, e isso ajudou a desconstruir alguns conceitos errôneos que a sociedade passa para eles”, conta Cibele. Essa história deu origem a um livro digital, que também foi impresso e se encontra na biblioteca da escola.
Bem-vindos à Letralândia
Um ambiente divertido para alfabetizar crianças com dificuldades de aprendizagem
Por João Vítor Marques
É numa sala sem quadro, cadernos e carteiras que alunos do 1º ciclo da Escola Municipal Vereador Carlos Pessoa de Brum, na periferia de Porto Alegre (RS), passam suas tardes. Ali dentro, tapetes coloridos e prateleiras de livros e jogos compõem o ambiente alfabetizador, que tem ainda a finalidade de inclusão. “As crianças das comunidades carentes geralmente têm pouco acesso a este material letrado mais voltado para a diversão”, destaca a professora Jussimara de Almeida Rocha, idealizadora do projeto Letralândia.
A experiência atende a quatro grupos de alunos em nível pré-silábico e que estão com dificuldades para avançar na aprendizagem da leitura e da escrita. Cada turma participa do projeto uma vez por semana, no contraturno das aulas tradicionais. Os encontros são baseados em jogos e brincadeiras e se dividem em três momentos. No início da tarde, as atividades de alfabetização se voltam para o coletivo, com o bingo de letras ou de sílabas. Em seguida, os jogos de memória e de trilha ajudam a trabalhar a consciência fonológica. “Tem também uma atividade que chamamos de ‘bomba’. Vamos passando uma bola transparente com várias questões dentro. Por exemplo: se tirarmos o ‘sa’ de sapato, o que vira? São brincadeiras que os fazem pensar nas palavras, nas sílabas”, explica Jussimara. Ao fim da tarde, a professora conta histórias – e pede para que os alunos contem também –, exibe filmes curtos e prepara apresentações teatrais.
Ao fim de um trimestre, os alunos que conseguiram avançar no aprendizado da leitura e da escrita dão lugar a outras crianças indicadas pelo professor titular. “Quando começam a participar das brincadeiras, eles percebem que estão conseguindo acompanhar o grupo e se sentem mais capazes”, explica a alfabetizadora.
Tradição vira brincadeira
Turma resgata brincadeiras tradicionais como forma de aprendizagem
Por Leíse Costa
Quando os vinte e cinco alunos do 1º ano da Escola Municipal Cel. Octayde Jorge da Silva, em Cuiabá (MT), chegaram à sala de aula no início do ano letivo, a professora Edione Abadia Madeu de Castro começou a observar os diferentes temperamentos. Dos mais tímidos aos com extrema facilidade de comunicação, ela logo notou um interesse comum de todos, que acabou atravessando boa parte do processo de alfabetização: o gosto pelas brincadeiras.
Logo no início, Edione contou aos pais a ideia e avisou que pequenos repórteres voltariam para casa, já que o primeiro passo era entrevistar alguém da família sobre os objetos com que eles brincavam quando eram criança. Reunindo as respostas, os pequenos expuseram-nas em sala - alguns lendo, e os que não liam, puxando pela memória. Coletivamente, votaram e elegeram os melhores brinquedos. “Nesse momento, trabalhamos com a Matemática por meio de gráficos e usamos adição e subtração”, conta Edione.
Brincadeiras escolhidas, era a hora de montar o manual de instruções de cada uma. Depois de entenderem as características do gênero textual, os alunos produziam seus próprios textos sobre as brincadeiras, com muito desenho. “A ideia era trabalhar com o lúdico o tempo todo”, acrescentou a professora.
Bilboquê, pião, vai e volta, girolê e pique-esconde foram algumas das brincadeiras que o projeto resgatou da infância dos pais das crianças, que levaram um pouco dessa memória para os gramados do Parque Mãe Bonifácia no final do ano letivo.
Todas as cores
Livro inspira jogo matemático e reflexão sobre respeito às diferenças
Por Clara Tannure
A partir do livro “Bom dia todas as cores”, de Ruth Rocha, a professora Luciene Silva deu início a uma reflexão sobre o respeito à individualidade com seus alunos da Escola Municipal João Amparo Damasceno, em Ipatinga (MG). “Ele fala sobre um camaleão que vive mudando de cor para agradar aos outros, mas se cansa de agradar a todo mundo e não agradar a si mesmo”, conta Luciene.
Antes da leitura, a professora confeccionou um livro em branco para todos os alunos. Enquanto ela lia, eles iam ilustrando seus livros, recontando a história cada um a sua maneira. “Depois disso, fizemos uma roda e conversamos sobre as diferenças e como é legal que cada um tenha gostos e opiniões diferentes”. Para complementar a reflexão, Luciene sugeriu relacionar a obra de Ruth Rocha com “Maria vai com as outras”, de Sylvia Orthof, sobre uma ovelha que se cansa de fazer tudo o que as outras faziam.
Ainda partindo do livro, a turma utilizou CDs velhos, papel cartão colorido e uma cesta para a criação de um jogo, cujo objetivo era acertar discos coloridos em um camaleão confeccionado com a cesta. “Quatro crianças jogavam por vez. Os pontos eram determinados a partir das cores dos discos que elas acertavam no camaleão. Os discos amarelos, por exemplo, valiam cinco pontos; os vermelhos, dois”, explica. Para descobrir a pontuação de cada um, Luciene e os alunos montaram uma tabela relacionando as cores e a quantidade de discos acertados na cesta.
Poesia sintética
A aldravia, poema de forma curta, inspira pequenos poetas mineiros
Por Fabíola de Paula
CHEIRINHO /DE /PÃO /ALIMENTA /NOSSA /INSPIRAÇÃO. Clientes de uma padaria em Santa Bárbara (MG) podem ter o prazer de ler poesias como essa ao fazer suas compras. A exposição na padaria foi uma das etapas do projeto Aldravilhando, que tem como um de seus objetivos estimular o prazer e a paixão pela leitura através de aldravias – uma forma de poesia sintética de apenas seis palavras-versos. Desenvolvido pela professora Viviane Felisberto com alunos do 5º ano, na Escola Municipal Marphiza Magalhães Santos, o projeto foi um dos finalistas da sétima edição do Prêmio Vivaleitura.
Em busca de um texto que chamasse a atenção de seus alunos, Viviane descobriu, em meados de 2014, a aldravia: “De início, essa forma prende a atenção por ser pequena. Mas a criança não vai ler só uma aldravia; vai ler um livro de aldravias”, explica a professora. Tendo isso em vista, ela começou a desenvolver com seus alunos um trabalho de pesquisa e criação poética com aldravias, que contou com várias etapas, como o encontro com escritores aldravistas, oficinas de criação poética e a elaboração de um kit de leitura, para cada aluno levar para casa. Após a escrita, os poemas das crianças ganharam os muros da escola, da comunidade e até o Facebook.
Várias habilidades de leitura e escrita desenvolvidas pelas crianças a partir do projeto foram percebidas pela professora, como o enriquecimento do vocabulário e maior facilidade de expressão de sentimentos. Outra prova do sucesso foi a maior frequência da turma na biblioteca, que era apenas de uma vez por semana e passou a mais dias, a pedido dos próprios alunos.
Pequenos artistas
Alunos redesenham obras de artista plástico em projeto interdisciplinar
Por Leíse Costa
Se entre o público adulto Romero Britto divide opiniões, entre as crianças ele é ovacionado. Quem pode constatar é a professora Sônia Maria Barbosa, da Escola Municipal Henrique Freitas Badaró, em Ipatinga (MG).
Com cores vibrantes e traços fortes, os trabalhos do artista trazem uma linguagem acessível às crianças. A professora utilizou desenhos como “O Peixe” e “O Abraço” para realizar atividades das disciplinas de Artes, Língua Portuguesa e Matemática em uma turma de Educação Intanfil.
Observando as gravuras exibidas pelo projetor, as crianças elaboravam suas próprias versões. Na hora de dar cor, qualquer material era bem-vindo: lápis de cor, giz de cera, tintas, pincéis e papéis coloridos picados. Feitos os desenhos, o projeto se voltou para a oralidade e a escrita, instigando os alunos a se manifestarem sobre as obras. “Tudo com uma produção mais espontânea, em uma linguagem acessível a eles”, explica. Sônia perguntava às crianças que palavras descreviam melhor, por exemplo, a obra “O gato”, e escrevia no quadro as palavras escolhidas por eles. Por meio de dobraduras, a Matemática também foi incluída na interdisciplinaridade do projeto. “Por exemplo, na obra do Bulldog, em vez de desenharmos, fui fazendo com eles a dobradura, partindo do quadrado e observando as diferentes
simetrias que iam sendo criadas”, explica.
Ao final, não foram só as crianças que se empolgaram com o desenvolvimento do projeto. Sônia se surpreendeu. “Como em toda turma, eu tinha alunos com um nível na escrita ainda começando o traçado, com dificuldades. Mas, na hora de desenhar e pintar, eles se revelaram, demonstraram grandes habilidades com o desenho e técnicas de pintura e dobradura”, conclui.