Cuidar e educar

Instituição de Belo Horizonte reflete mudanças relacionadas ao atendimento à primeira infância


     

Letra A • Segunda-feira, 22 de Dezembro de 2014, 15:18:00

Por Daniel Henrique

Lucy era moradora do bairro Grajaú, em Belo Horizonte (MG), e uma das grandes entusiastas da construção de uma creche na comunidade, pensando na necessidade das mães de terem onde deixar os filhos enquanto iam trabalhar. Idealizada em 1972, a Creche Tia Lucy foi inaugurada em 1982. A homenagem no nome se explica porque Lucy encarnava o espírito solidário que levou à construção do espaço. “Lucy era enfermeira e ajudava em projetos da igreja. Todos gostavam muito dela, era uma pessoa muito prestativa, então a comunidade quis fazer essa homenagem.” conta Sônia da Silva Machado, diretora da Unidade Municipal de Educação Infantil (UMEI) Grajaú – nome atual da instituição.

A obra foi feita em um terreno da Prefeitura, como resultado da iniciativa dos moradores e colaboradores, que se responsabilizavam pela administração da Creche Tia Lucy. Por seu caráter filantrópico, a manutenção era desafio constante. “Como toda creche passava por muita dificuldade, naquela época havia os padrinhos, que ajudavam financeiramente”, relata Sônia. Segundo a Prefeitura, ao final de 2007, o prédio da creche apresentou uma série de problemas estruturais e foi interditado pela Vigilância Sanitária. Foi no ano seguinte que a instituição foi municipalizada, tornando-se a UMEI Grajaú.

 

Mudança de perfil

Diretora da UMEI desde o início de 2008, Sônia explica que, na época de sua fundação, o intuito era basicamente o de cuidar: as crianças até desenvolviam atividades como desenhar, colorir e algumas brincadeiras, mas com o simples propósito de passar o tempo. Agora, como UMEI, o objetivo de cuidar se alia ao de educar, com projetos e atividades planejados e baseados em materiais disponibilizados pela Secretaria de Educação. O quadro profissional também mudou, já que no início as cuidadoras baseavam seu trabalho muito na experiência e na intuição. “As cuidadoras brincavam, davam banho e se esforçavam para fazer o melhor enquanto estavam com as crianças. A diferença é que, hoje, existe planejamento, qualificação e uma estruturação melhor”, afirma a diretora.

A professora Luzia Alves de Amorim explica que muitas pessoas ainda não compreendem a diferença de proposta, acreditando que a instituição ainda cumpra o mesmo papel de quando tinha caráter assistencial. “A maioria pensa que os alunos da UMEI ficam aqui somente para passar o tempo e serem cuidados, mas aos poucos eles vão compreendendo que existe todo um processo de aprendizagem”, comenta Luzia. A professora ressalta que, como UMEI, o acompanhamento do desenvolvimento das crianças é muito maior. “Nós fazemos um portfólio para cada um, que é levado para casa e mostrado aos pais, além da mostra cultural que acontece no fim do ano, também com o objetivo de envolver a família”, relata.

Atualmente, a UMEI atende a 96 crianças, com capacidade máxima para 100. Pelo perfil da comunidade, é uma das poucas da rede municipal que atende a todas as faixas etárias em período integral. Na distribuição das vagas, conforme determinação da Prefeitura, 70% são destinadas às crianças com alto grau de vulnerabilidade e 10% a crianças que moram no entorno da instituição. Para preencher os 20% restantes, é realizado um sorteio.

 

Dois significados

‘Creche’ é o termo legal para o atendimento educacional de 0 a 3 anos e integra a Educação Infantil, juntamente com a pré-escola (4 e 5 anos), constituindo a primeira etapa da Educação Básica.

No entanto, em Minas Gerais, como em algumas outras regiões do Brasil, a palavra ‘creche’ também se refere aos asilos diurnos para crianças cujos responsáveis estão no trabalho, o que eventualmente gera incompreensões em relação a esse serviço.