Dicionário da Alfabetização: Adaptação literária

Rosa Maria Hessel Silveira – Professora e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)


     

Letra A • Quarta-feira, 20 de Abril de 2016, 16:05:00

Provavelmente, o primeiro contato que você teve com as histórias do Pinóquio e da Alice no País das Maravilhas foi através de adaptações dessas obras, ora em edições impressas resumidas, ora em versões para cinema, TV etc. E este fato é relembrado para demonstrar como nossa vida é atravessada por adaptações de toda ordem.

Mas o que se entende por “adaptação literária”?  De maneira geral, pode-se nomear com esta expressão a transposição e/ou recriação de obras literárias tanto para a mesma mídia – livros impressos –, quanto para o cinema, para os desenhos animados, para o teatro, para as histórias em quadrinhos, para séries de TV etc. A questão da adaptação literária ganha especial relevância no universo escolar onde circulam crianças e adolescentes. E isso porque é comum que busquemos apresentar obras reconhecidas e canônicas a nossos alunos, leitores ainda em formação, através de edições em que eles tomem um primeiro contato com as narrativas e personagens centrais dessas obras.

Os estudiosos de literatura reconhecem o valor das adaptações para a formação de jovens leitores, com a expectativa de que elas os levem, mais tarde, à leitura das obras originais. Por outro lado, as adaptações têm um histórico de desconfiança em relação a sua qualidade textual. Efetivamente, algumas delas atendem apenas a interesses mercantis e consistem em reduções excessivamente simplificadas (e/ou modificadas) das narrativas originais. O pesquisador Pedro Cerrillo, em estudo sobre adaptações de O Patinho Feio, de Andersen, comenta uma edição da obra em que a transformação do patinho em cisne se dá pela ação de uma fada com sua varinha de condão, num exemplo extremado de má adaptação. Nesse sentido, é crucial o papel da professora e do professor ao escolherem as edições adaptadas que disponibilizarão ou indicarão a seus alunos crianças e adolescentes, que devem ser aquelas com um projeto editorial de qualidade, paratextos adequados e, sobretudo, um cuidado para que os sentidos abertos e metafóricos das obras originais não sejam transformados em mensagens pedagógicas explícitas.