Dicionário da Alfabetização: Inclusão digital

Letra A 55


     

Letra A • Terça-feira, 01 de Março de 2022, 22:18:00

 
Termo empregado no processo de alargamento da inserção das tecnologias digitais na sociedade, no início do século XXI. É derivado do discurso da inclusão, empregado nas mais diversas áreas, como justificativa para ações de cunho compensatório, que buscam amenizar uma grave problemática social, a exclusão. Embora a exclusão seja um processo multifacetado, que mantém relações com a ordem política, econômica, cultural, educacional, resultado das dinâmicas capitalistas da segunda metade do século XX, a exclusão digital sempre esteve relacionada às dificuldades de acesso às tecnologias e aos extratos sociais que não possuem condições para adquirir os dispositivos e os serviços tecnológicos; daí a ancoragem dos discursos sobre as taxas de acessibilidade, especialmente à internet. Considerando que a inclusão é tomada como positivação da exclusão, o que implica o entendimento do social a partir de uma concepção dual do dentro e do fora, a inclusão digital é um tema polêmico, ambíguo, conflituoso, com vários sentidos construídos em torno dele, mas que se aproximam ao explicitar a necessidade de os sujeitos sociais terem acesso às tecnologias digitais e se apropriarem delas como autores e produtores de ideias, conhecimentos, proposições e intervenções que provoquem efetivas transformações em seu contexto de vida. No Brasil, o termo foi utilizado como jargão apelativo, tanto nas abordagens políticas, quanto nos projetos da sociedade civil e da academia: uma espécie de nova e mirabolante solução para as problemáticas sociais. No entanto, as políticas públicas desenvolvidas sobre essa “bandeira” foram fundamentais para a ampliação dos processos de inserção das tecnologias digitais na sociedade brasileira, para a formação dos sujeitos para seu uso e para a produção de conteúdos de forma descentralizada, integrada às culturas locais. Portanto, inclusão digital pode ser compreendida muito mais como um movimento social e político do que como um movimento tecnológico.
 
Maria Helena Silveira Bonilla – professora titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA).