Dicionário da Alfabetização: Primeira Infância


     

Letra A • Segunda-feira, 22 de Dezembro de 2014, 15:27:00

Por Beatriz Corsino Pérez (Doutora em Psicologia pela UFRJ) e Marina Castro e Souza (Doutoranda em Educação pela PUC-Rio)

O termo “primeira infância” tem sido utilizado para dar relevância às especificidades das crianças pequenas, dentro da categoria mais ampla de infância. Atualmente, existem diferentes concepções que justificam a importância do momento inicial de vida para o desenvolvimento infantil, bem como para a construção de experiências educativas.

É preciso considerar que a produção de divisões no ciclo da vida serve para atender às demandas políticas, sociais e culturais de um determinado momento histórico e, portanto, são variáveis. Em relação à faixa etária, é mais comum usar esse termo para se referir às crianças desde o nascimento até os 6 anos de idade. Também é possível encontrar a infância dividida em três faixas etárias (primeira, de 0 a 3 anos; segunda, de 3 a 6 anos; terceira, de 6 a 11 anos) marcadas por mudanças no desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial. Essa terminologia é frequentemente utilizada pelos organismos internacionais (early childhood, em inglês).

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), por exemplo, define primeira infância de 0 a 8 anos, período crucial para o desenvolvimento do cérebro, servindo como base para aprendizagens subsequentes. Helen Penn (2002), ao discutir a visão do Banco Mundial para a primeira infância, afirma que o interesse nesse público se justifica pelas ideias de preparação para a entrada na escola e de produção da força de trabalho capaz de se adaptar e contribuir para o crescimento econômico do país. Gunilla Dahlberg, Peter Moss e Alan Pence (2003) trazem a utilização do termo associado à qualidade da educação voltada para as crianças de 0 a 6 anos, dando ênfase para uma concepção de infância como construção social e histórica. José Gongra e Inára Garcia (2004), numa reflexão sobre a racionalidade médico-higiênica e a construção social da infância, citam a utilização dessa terminologia pelo médico Alfred Becquerel – que em seu Tratado elementar da higiene privada e pública (tradução livre), de 1864, já considerava a primeira infância do nascimento até os 2 anos de idade.

Por fim, é importante salientar que nos principais marcos legais brasileiros, como o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases, não há referência ao termo “primeira infância”.