Diferentes perspectivas educacionais
Representantes indígenas e quilombolas falam sobre educação e cultura no seminário Teias de Cidadania
Acontece • Terça-feira, 01 de Outubro de 2013, 16:39:00
Durante toda a quinta-feira, dia 26 de setembro, a tenda “Experiências em Educação Indígena e Quilombola” debateu tradição, respeito e preservação das culturas na educação. A mesa foi constituída por coordenadores da Escola Estadual Indígena Pataxó Muã Mimatxi e da Escola Estadual Santo Isidoro, que é quilombola.
Educar pela vida
O educador pataxó Kanatyo apresentou-se ressaltando a importância de formar indivíduos dentro da cultura indígena. Quando o homem branco chegou à terra, os indígenas foram forçados a mudar sua forma de ensinar e aprender. A limitação de seu território foi decisiva para esta mudança, já que a educação se dava através do diálogo com a natureza: “Para nós, a terra é Mãe. Não a vendemos para ninguém.”, explica Kanatyo.
Os educadores indígenas de Itapecerica (MG) seguem a pedagogia de trilhar a educação pela vida, ou seja, educar pensando sempre na vida do povo indígena e no jovem que será formado. São os próprios membros da aldeia que escolhem os professores: além de ser responsável por preservar a educação pataxó, o professor precisa defender sua terra. Siwê, filho mais velho de Kanatyo e educador em Muã Mimatxi ressalta: “A escola é muito importante para o cotidiano da nossa sociedade, ela se tornou um instrumento da luta indígena.”.
Os livros didáticos tradicionais não atendem a cultura da tribo, então os educadores trabalham com seu conhecimento tradicional através de jogos pedagógicos. A partir deles, é possível construir o conhecimento das disciplinas escolares comuns, como história, geografia, matemática etc. A tribo desenvolveu livros chamados “Jogos Pataxó”, que trabalham temas da cultura indígena, promovendo a interação entre as crianças e os adultos. Assim, a criança passa a ser mais participativa e todos aprendem.
A mãe de Siwê faz parte da liderança de mulheres da aldeia e ensina através de seus desenhos, já que não sabe ler nem escrever. Cada desenho feito por ela representa um valor Muã Mimatxi, que se aprende pelo olhar: “A minha escrita é a imagem porque tudo que fazemos é a partir do olhar para a natureza.”.
Cultura quilombola na educação
As representantes da E. E. Santo Isidoro Maria Elena de Oliveira, Ana Maria Cassiano Silva e Terezinha Martins contaram a história de Adão, fundador da escola.
Sendo o único quilombola que sabia ler e escrever em Berilo (MG), Adão Pedro Alexandrino redigia e recebia cartas para toda a população. Com a demanda crescente, ele passou a alfabetizar os moradores. Apoiado pela igreja, o próprio povo construiu uma capela, onde passou a funcionar a escola que, com o tempo, cresceu até ter seu próprio espaço. Com sete salas e diversos professores, a atual escola realiza atividades para resgatar e perpetuar a cultura quilombola.
As educadoras relatam que desde cedo incentivam o uso de livros com a temática étnico-cultural, e que, nesse ponto, os livros didáticos convencionais não atendem a esse propósito. Coube à escola realizar atividades que resgatassem os valores, crenças e costumes quilombolas, como o Congado, por exemplo.
O envolvimento da escola na comunidade é intenso: todas as datas comemorativas possuem alguma colaboração dos alunos e funcionários, sempre com muita música e dança. São os próprios alunos que formam a banda da escola, cujo maestro também estudou na Santo Isidoro. “Sem a banda, música e dança nada funciona.”, conta com orgulho Maria Helena. “A alegria faz parte dos quilombolas.”.
Além do Congado, os alunos têm aula de capoeira, fazem reconto de livros e montam sozinhos um desfile de beleza negra. As próprias meninas da escola organizam figurinos, maquiagem e penteados: com o incentivo da coordenação, o desfile tornou-se uma atividade semanal para desenvolver a auto-estima.